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Diáconos X Padres. Quem perde? A igreja católica.

14/11/2009

Diácono Luiz Gonzaga

Gostaria de comentar o texto publicado pelo Diácono José Carlos Pascoal, assessor de comunicação do CND, publicado em 09/11/09 na página da Comissão Nacional dos Diáconos com o tema “Acidental ou essencial” e acrescentar alguma coisa mais.

Meus irmãos, o Catecismo da Igreja Católica no nº 1571 diz: “...constitui um importante enriquecimento para a missão da Igreja”.

Mas, quem constitui esse enriquecimento para a missão da igreja? Os diáconos permanentes.

Eu fico então a me perguntar: - Até onde isto que diz o catecismo pode ser aproveitado pelo povo de Deus?

Após conversar com vários irmãos de diaconato, pude constatar toda uma angústia e em alguns até mesmo uma depressão espiritual por causa do diaconato.

Mas a que se deve isso? Os vários fatores. Poderíamos enumerar muitos, mas, vamos a alguns.

Somos muitas vezes deixados de lado. O enriquecimento que poderíamos produzir gerar na Igreja com nossa experiência de homens casados, pais de família, provedores de um lar, homens seculares, nos é castrado.

Somos chamados por Deus e pelo Sacramento da Ordem a vivermos uma missão de “serviço”. Cabem a nós diáconos permanentes “servir a todos”. Mas será que temos feito isto?

Infelizmente, a grande maioria dos diáconos permanentes do Brasil tem encontrado enormes dificuldades em seus ministérios. Não somos nem lembrados (como se refere nosso irmão diácono Pascoal da assessoria do CND em seu texto).

Como se não bastasse o esquecimento temos alguns padres que não nos aceitam não nos querem para o serviço do altar, muito menos em suas paróquias para o serviço ao qual fomos chamados e ordenados.

Ora, porque então convidar um homem para participar de uma escola diaconal? Porque então, tantas escolas diaconais pelo Brasil a fora? Porque então ter resgatado o diaconato a partir do vaticanoII se, aqueles que foram chamados, estudaram se prepararam, são homens íntegros, não podem servir, não podem colocar seu ministério a serviço de todos!

Ciúme, inveja, desrespeito, despreparo de alguns ordenados que, deixam os seminários cheios, robustos de liturgia e teologia, mas, estão completamente vazios estéreis de Deus, de caridade, de amor, de partilha de compaixão e misericórdia pelo povo de um “deus” que dizem servir.

É preocupante olhar em volta e observar uma paróquia com tantas comunidades (como aqui no norte do Brasil) e essas comunidades não serem atendidas espiritualmente por falta de padres ou diáconos ou leigos em condições de poderem transmitir a Palavra de Deus.

O pior acontece quando, dentro da paróquia, existe um diácono permanente e por capricho, orgulho ou vaidade do padre, este diácono não pode servir, não pode colocar-se a ‘servir a todos’, porque o “pároco” não quer diácono na sua paróquia, preferindo convidar o ministro da eucaristia (nada contra) ao diácono para realizar a Celebração da Palavra no domingo.

O diácono que se preparou por 3 ou 4 anos para o ministério é jogado no ostracismo. É deixado de lado como um saco de batata.

Ou ainda, quando alguns padres utilizam seminaristas que, muitas vezes ainda estão no primeiro ou segundo ano de filosofia não está nem na teologia, não receberam nem as “ordens menores” (leitorado e acolitato) e se enchem de vaidades. Vestidos como padres, ostentando o “clesma”, sentem-se “padres” sem ao menos saber para que lado vai a missa, mandando muitas vezes mais que os próprios padres, levando o diácono a situações constrangedoras.

O que aconteceria se após 7 ou 8 anos de intensa preparação para o presbiterado, depois de ordenado, na celebração de sua primeira missa, o padre fosse substituído pela freira e ele ficasse somente olhando?

O documento de Aparecida no número 206 diz: “Cada diácono permanente deve cultivar esmeradamente sua inserção no corpo diaconal, em fiel comunhão com seu bispo e em estreita unidade com os presbíteros e os demais membros do povo de Deus.”

Veja o que diz, “cultivar fiel comunhão com o bispo e em estreita unidade com os presbíteros...”.

Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, a palavra “estreitar” quer dizer: “tornar mais íntimo”.

Bem que nós diáconos temos procurado este estreitamento, este “tornar-se mais íntimo” com os padres, mas, eles insistem em viver o afastamento, a separação ao estreitamento.

É claro e evidente que isso não é regra, pois se caso fosse, coitado de nosso povo e de nossa igreja. Temos padres fantásticos, envolvidos com a causa do Reino de Deus. Padres zelosos, acolhedores, amigos e íntimos dos diáconos e de seu rebanho. Padres que se preocupam com o diácono e sua família estão sempre perguntando como está o ministério, se está precisando de alguma ajuda maior para que possa fazer chegar o Reino aos irmãos. Vive na prática o papel de ‘pastor de almas’ e não de “administrador de gabinete paroquial”. Onde se encontra o “conselho paroquial”? Serve para algo em algumas paróquias? Ou só é denominação?

Segue o Documento de Aparecida dizendo no nº 206: “Quando estão a serviço de uma paróquia, é necessário que os diáconos e presbíteros procurem o diálogo e trabalhem juntos”.

Acho que isso é utopia que apresenta o documento. “Diálogo e trabalho juntos”. O que mais observamos são divergências, falta de amor e caridade. Arrogância e discriminação. Presunção e egoísmo por parte de alguns que tem na paróquia, a sua “fortaleza”, deixando somente entrar, participar da mesma, apenas aqueles que lhe agradam ou comungam do mesmo pensamento para não lhe contrariar.

Que fica bem claro. SOMOS MINISTROS SAGRADOS. Diz o documento157 (diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes) na página 89, nº 1: “Mediante a imposição das mãos e a oração consagratória, ele (diácono) é constituído ministro sagrado, membro da hierarquia. Esta condição determina o seu estado teológico e jurídico na Igreja”.

Assim sendo, o diácono precisa ser * R E S P E I T A D O*.

Não que queiramos honras ou glórias (2 Cor. 10,31 “quer comais quer bebais quer façais qualquer coisa, fazei-o para a glória do Senhor”), mas, que sejamos tratados com atenção e dignidade por parte de alguns que, sobem no presbitério para pregar o amor, a acolhida e a dignidade, mas, não vivem aquilo que pregam.

Ou será que tudo isso é fantasia? Não passa apenas de linhas escritas sem validade? Ou será que o sacramento da ordem somente tem valor para o grau, episcopal e presbiteral?

Graças a Deus e a Virgem de Nazaré, posso desenvolver meu ministério com tranqüilidade na paróquia em que sirvo hoje (Santa Rita de Cásia – Ananindeua/PA) e tenho se não, uma relação 100% com o pároco, pelo menos estamos procurando dialogar e trabalhar da melhor maneira possível, buscando o povo, tendo como escopo, o povo de Deus.

Antes de ir ‘trabalhar’ na paróquia de Sta. Rita, tive uma experiência horrível, muito dolorosa. Servia em uma comunidade do meu bairro, quando fui chamado para uma reunião na mesma. Lá chegando para a minha surpresa, ouvi do coordenador da comunidade que o padre havia dito que se eu continuasse a visitar e celebrar na comunidade ele (padre) tinha “poder” para fechar a mesma. Tudo isso por que segundo ele (padre) a comunidade estava dando mais atenção ao diácono do que a ele (padre).

Será que era porque eu estava mais presente do que o padre? Ouvia mais a queixa, o lamento a angustia a aflição do povo do que o padre? Visitava mais os doentes do que o padre? Procurava orientar mais o povo do que o padre? Será que era porque era periferia e eu estava lá, enquanto o padre...................!

Ora meus irmãos, isto não existe. Estamos todos no mesmo barco e remando para o mesmo lado. Jesus que é Jesus pediu a colaboração de doze homens, depois vieram mais setenta e dois e assim por diante.

Não professamos a mesma fé? Não estamos na mesma igreja? Não cremos no mesmo Deus? Então isto de fechar a comunidade não existe, é ciúme bobo que não leva a nada, pelo contrário, dispersa o povo de Deus.

O diácono não quer fazer às vezes do padre, não temos essa pretensão, nós temos plena consciência de que fomos ordenados para o serviço (altar, palavra e caridade). Ocorre que, não querem nos deixar. Não estão permitindo que sejamos “servidores de todos”. Se não estão nos deixando servir naquilo para o qual fomos ordenados, imaginem cuidar de uma paróquia.

Vamos ler o que diz o código de direito canônico: Cân.517, parágrafo 2: “Por causa da escassez de sacerdotes, se o Bispo diocesano julgar que a participação no exercício do cuidado pastoral da paróquia, deva ser confiado a um diácono...”. Q U I M E R A ?

Não quero ser arrogante, mas o nosso papel hoje, em um mundo pluralista, é o de ajudar em muito a igreja católica e para isso fomos ordenados. O diácono está a serviço para ir onde o padre não pode estar.

Agora: Não vão e não nos deixam ir. “É meu território paroquial e aqui entra quem eu quero”. Esta é a mentalidade de alguns padres, I N F E L I Z M E N T E, o que é uma pena. E assim quem perde? A igreja católica.

O Livro dos Atos 3,6 diz: “Eu não tenho nem ouro nem prata, mas dou-te aquilo que tenho”.

A igreja católica tem a nós, diáconos permanentes e não está nos aproveitando. A igreja não está nos oferecendo ao mundo, por capricho e inveja de alguns. Esta nos preferindo “CASTRAR” a lançar seus servidores para “águas mais profundas”. Somos chamados pelo Documento de Aparecida nº 205 a: “acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais”.

Como acompanhar se não nos permite nem a chegar perto. Ou ainda, a comunidade ser fechada porque o diácono está lá ajudando na evangelização?

O Documento de Aparecida segue dizendo agora no nº208: “A V conferência espera dos diáconos um testemunho evangélico e impulso missionário para que sejam apóstolos em suas famílias, em seus trabalhos, em suas comunidades e nas novas fronteiras da missão”.

É o que todos nós queremos “SERVIR” como apóstolos, pela causa do Reino de Deus. É só nos deixarem, nos respeitarem, nos acolherem e reconhecer em cada um de nós diáconos permanentes, uma extensão do padre e da igreja católica nas comunidades.

Quero deixar claro uma coisa. Minha intenção não é fazer apologia contra padre a favor de diácono e sim buscar um despertar em todos nós, padres e diáconos para esse problema que a Igreja insiste em tapar com a peneira, mas que na realidade angustia a todos, pois quem perde como já me reportei é a igreja é o povo da periferia que não pode se deslocar para os grandes centros urbanos para participar da Santa Eucaristia. Acabam ficando sem a Eucaristia e sem a Palavra. Quem perde é o padre e o diácono que, ao invés de buscarem juntos a edificação do Reino de Deus aqui na terra, estão é dispersando a grande massa, ávida por escutar a Palavra de Senhor. E enquanto ‘brigamos’ os nossos irmãos que vivem de proselitismos, arrebanham as nossas ovelhas para o seu redil.

Vamos todos fazer uma grande meditação. Vamos todos buscar no respeito uns aos outros a sintonia e a harmonia necessária para juntos, remarmos a favor da mesma maré, do mesmo Deus do mesmo Reino e da mesma Igreja Católica Apostólica Romana da qual professamos.

(*) Arquidiocese de Belém- Amazônia- Brasil

Data do artigo: 14/11/2009