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Maria grande missionária e formadora de missionários

01/08/2008

Diác. Alberto Magno C. de Melo

269. Maria é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários. Ela, da mesma forma como deu à luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho à nossa América. No acontecimento em Guadalupe, presidiu, junto com o humilde Juan Diego, o Pentecostes que nos abriu aos dons do Espírito. A partir desse momento, são incontáveis as comunidades que encontraram nela a inspiração mais próxima para aprenderem como ser discípulos e missionários de Jesus. Com alegria constatamos que ela tem feito parte do caminhar de cada um de nossos povos, entrando profundamente no tecido de sua história e acolhendo as ações mais nobres e significativas de sua gente. Os diversos títulos e os santuários espalhados por todo o Continente testemunham a presença próxima de Maria às pessoas, e ao mesmo tempo manifestam a fé e a confiança que os devotos sentem por ela. Ela pertence a eles e eles a sentem como mãe e irmã. (Documento de Aparecida, 2007).

Por que Maria é missionária?

Uma missão, segundo o dicionário, é “uma função ou poder que se confere a alguém para fazer algo”, é uma incumbência dada a alguém. Para a Igreja uma missão está intimamente ligada à pregação da fé cristã. É um mandato conferido a determinadas pessoas, clérigos ou leigos, para levar o Evangelho àqueles que ainda não o conhecem ou ajudar no aprofundamento da fé das comunidades.

A origem da missão está no próprio Deus que suscita profetas, apóstolos e discípulos para anunciar Sua Palavra. Jesus diz aos apóstolos: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt. 28,19). Trata-se ao mesmo tempo de um mandado (ordem) e de um mandato (poder de agir em nome Dele).

As Sagradas Escrituras descrevem a história da salvação, mostrando como Deus prepara a vinda do Messias. No Livro do Gênesis, após o pecado de Adão e Eva, há a promessa de uma mulher que esmagará a cabeça da serpente (Gn. 3,15). Isaías prenuncia que uma virgem conceberá e dará a luz a um filho, cujo nome será Emanuel – Deus conosco (Is. 7,14). Percebe-se claramente a vocação de Maria no plano da salvação.

A primeira Missão de Maria

Chegada a “plenitude dos tempos” Deus, através do anjo Gabriel, anuncia a Maria que ela foi escolhida para ser a Mãe do Salvador (Lc. 1,26 ss). Esta é a primeira missão de Nossa Senhora: gerar em seu seio o Redentor.

Deus propõe a missão, não impõe. Maria é livre para aceitar ou não tal encargo. No início ela não compreende inteiramente a saudação do anjo (“Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo!”), não sabe como pode ser possível conceber um filho, sendo virgem, e questiona o anjo: “como é que vai ser isso?”. E diante da resposta do anjo Maria dá o seu sim: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”. Maria deixa-se conduzir pela vontade de Deus, mesmo não compreendendo totalmente o significado e a extensão de sua missão.

Maria é guiada pela Palavra de Deus durante toda sua vida: através do anjo Gabriel na Anunciação; na visita a sua prima Isabel (“bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”); em Belém quando Jesus nasceu, através do relato dos pastores de Belém (“eu vos anuncio uma grande alegria, nasceu-vos hoje um Salvador”);pelo velho Simeão no templo (“meus olhos viram vossa salvação”); da profetisa Ana que a todos relatava a novidade do nascimento do Redentor; por Jesus, quando se perdeu e é encontrado no templo (“não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?”).

Maria escuta e põe em prática a Palavra de Deus (Lc 8,20-21): “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

Mais uma Missão para Maria

Maria se faz presente na obra salvífica de Jesus desde a Anunciação até o Calvário, mas a Missão de Maria não se encerra aí. Aos pés da cruz recebe de Jesus o cuidado com cada um de nós, na pessoa do apóstolo João: “Mulher, eis aí teu filho. Filho!” (Jo 19,26).

Formadora de missionários

“Maria Santíssima, a Virgem pura e sem mancha, é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra. O Papa veio a Aparecida com viva alegria para nos dizer em primeiro lugar: Permaneçam na escola de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos. Procurem acolher e guardar dentro do coração as luzes que ela, por mandato divino, envia a vocês a partir do alto” (Bento XVI, discurso do final do Santo Rosário no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, 12 de maio de 2007).

Nossa Senhora é Mãe e Modelo e assim desempenha um papel de educadora. Deseja conduzir seus filhos ao caminho da salvação. Maria cumpre essa missão com seu exemplo de vida: fidelidade ao projeto do Pai.

O que Maria ensina?

Escuta

“conservava todas estas recordações e as meditava no coração” (Lc. 2,19).

Deus fala pelas Escrituras, pelos acontecimentos, pela Igreja... De muitas maneiras Ele se comunica, mas para ouvi-Lo é preciso estar atento, com os ouvidos e coração abertos. Maria escuta a vontade de Deus através do anjo, de sua prima Isabel, dos pastores, de Simeão, do ministério de seu Filho, de sua oração pessoal... Conserva estas mensagens e medita no coração, e vai compreendendo o plano de Deus aos poucos.

Obediência

“Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc. 1,38.)

Maria devia ter seus planos: casar-se, ter filhos... Como qualquer jovem de sua idade, no seu tempo. Deus lhe pede muito mais, pede a ela toda sua vida. Abandona sua vontade para se abrir inteiramente à vontade do Pai. Por quantos percalços passa: gravidez antes de coabitar com seu esposo; fuga para o Egito; volta para Nazaré; a vida pública de seu Filho que culmina na crucifixão...

Virgindade e Pureza

“Creio em Jesus Cristo... nasceu da Vigem Maria...”

O símbolo apostólico professa a virgindade de Maria antes e depois do parto. Mais que uma questão fisiológica a virgindade de Maria Santíssima remete a uma reflexão profunda da vida em Deus. Maria entrega-se por inteira ao projeto de Deus, sem divisões, sem concessões.

Atenção e serviço ao próximo

 

272. Com os olhos postos em seus filhos e em suas necessidades, como em Caná da Galiléia, Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. (Documento de Aparecida).

Maria educa, ensina, prepara para a missão... Como ela mesma fez e continua fazendo. Grávida, faz uma longa caminhada até a casa de sua prima Isabel, de idade avançada e também grávida, para servi-la como era o costume. Nas Bodas de Caná preocupa-se com o vinho que está no fim.

Como Mãe está sempre atenta às necessidades de seus Filhos, especialmente ocupada em levar seu filho nos braços e apresentá-Lo ao mundo.

E a missão continua...

Depois da Ascensão, Maria está com os apóstolos no cenáculo, em Pentecostes. E em toda história da Igreja Maria se faz presente. Os títulos que Maria recebeu em muitos lugares atestam a sua presença e a piedade do povo que a reconhece como mãe: Guadalupe, Lourdes, Fátima, Aparecida, para citar alguns. Tantos lugares, uma missão: levar seus Filhos a Jesus. Pela sua cooperação na obra do Redentor, continua sua função de mãe intercedendo como “Medianeira das graças”. Esta presença de Maria é reconhecida pelos padres da Igreja, pelos Papas e por todo o povo de Deus.

O Papa Pio XII em 1954 escreve uma encíclica sobre a realeza de Maria (“Ad coeli Reginam”) e a instituição da festa da Imaculada Conceição. Nesta encíclica o Santo Padre lembra que a veneração à Mãe de Jesus remonta ao início da Igreja.

O culto prestado a Maria indica veneração (hiperdulía) em reconhecimento àquela que é o protótipo perfeito do seguimento de Cristo. Venerada por sua dignidade de Mãe de Deus, pelo seu papel na história da salvação e pela incessante intercessão pela humanidade.

O Diác. Alberto P. Carvalho gostava de lembrar que “o verdadeiro devoto não é o que reza, mas o que imita”. Dividido entre os apelos do mundo e a vocação à santidade, o fiel encontra na imitação de Maria o caminho seguro do seguimento de Jesus. Maria é modelo e exemplo de amor incondicional, traduzido na fidelidade ao projeto do Pai e no serviço aos irmãos.

Diácono da Arquidiocese de Brasília, Assessor de Comunicação da CND (ENAC).

Data do artigo: agosto/2008