Home | Publicação | Refletindo na Festa de São Lourenço, diácono

Compartilhe:

Refletindo na Festa de São Lourenço, diácono

22/11/2019

Diácono Ronaldo Ronil, ofs

Caros Irmãos no Diaconato, o Senhor vos dê a Paz!

No amanhecer deste gélido dia de inverno, já desde as primeiras luzes da aurora, se agigantava em nossos corações uma feliz certeza: Somos plenamente alegres por Servir ao nosso Bom Senhor! O perfume da missão que nos une evoca oportunamente neste dia festivo aquele caminho que a Igreja nos aponta no espírito do Documento de Aparecida, nas palavras de S.S. Papa Bento XVI: "Discipulado e Missão são como as duas faces de uma mesma moeda: quando o Discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos Salva (Hb 4,12). Com efeito, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro" (DAP 146).

Na presente liturgia, celebramos Lourenço, diácono como nós no chamado vocacional e na missão para que sejamos diáconos como ele na santidade e no compromisso com os pobres e com a Santa Mãe Igreja. Então, com a memória de São Lourenço, o mês de Agosto vem revigorando o ânimo apaixonado de nossas vocações, convidando-nos a um novo fôlego, pedindo-nos um vigor ardoroso por servir sempre mais e melhor. Aquele que corajosamente serve porque entranhadamente amou, eis um apropriado resumo da identidade deste santo mártir. Um cuidador zeloso dos pobres, um multiplicador do Amor que dá testemunho da fé até o derramamento hercúleo do próprio sangue. Foi queimado vivo. Seus perseguidores depois de o terem prendido, queriam tirar-lhe os bens da Igreja que estavam aos seus cuidados. Lourenço declara que o único bem que possuía eram os pobres a ele confiados pela Igreja. Essa ainda hoje, é a resposta ideal para a nossa vida diaconal: o que a Igreja nos confia é o cuidado e atenção para com o clamor do povo que sofre, esquecido pela sociedade, execrado em seus direitos basilares.

A Igreja nos envia na missão diaconal confiando-nos a tríade diaconal da Palavra, da Liturgia e da Caridade. Sabemos que não somos perfeitos, mas sabemos que somos chamados. "Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota" (Madre Teresa de Calcutá). Irmãos Diáconos, dificuldades encontraremos muitas, aos milhares talvez, mas como o diácono S. Francisco de Assis podemos afirmar que nossa história de amor vocacional iniciou-se "quando o Senhor me deu irmãos" (Testamento de São Francisco de Assis, 4,14). Deu-nos muitos irmãos para servir cada um com o coração pulsando nas mãos, com o sorriso iluminado, com o olhar interessado. A missão não nos isenta de problemas, mas "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes" (d. Helder Câmara).

Então, como anunciadores da PALAVRA que liberta, nossas mãos sejam calejadas no carinhoso esforço do amor, diante dos desafios do labor ao irmão mais necessitado, seja elas anúncio corajoso do Evangelho que proclamamos em nossos púlpitos dominicais. Assim, como artífices dedicados da CARIDADE, sejamos semeadores da esperança. Alguém já disse muito bem que é fácil amar ao amigo, muito mais difícil é amar àquele que nos contesta. E, cotidianamente, a sociedade contesta nosso cristianismo, nossas convicções mais profundas, nossos valores mais plenos. Nossa resposta seja sempre mais caridade, multiplicada caridade, corajosa caridade. A caridade anda de mãos bem unidas com a Paz. D. Helder Câmara, bem dizia: "O amor é o perfume das almas... As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leve-as no coração".

Na zelosa celebração da LITURGIA, nós nos reunimos para celebrar a Vida, porque a Liturgia vem de Deus como serviço à vida e toda escolha em favor da Vida nos capacita a erguer bem alto o archote de Cristo contra todos os poderosos gládios de morte e da miséria que ferem o cotidiano de nossos irmãos. "A importância da liturgia não se esgota no momento da celebração: é a primeira e necessária fonte da qual os fiéis haurem o espírito verdadeiramente cristão" (SC 14; citação de Pio X, no Motu Próprio Tra le sollecitudini, 1903). É, sobretudo, na liturgia que sorvemos no âmago da experiência mais profunda e mais plena do nosso encontro com o Senhor e ali naquele solo sagrado do pão partilhado colhemos as exigências para o cotidiano e somos convidados a imitar aquilo que celebramos e proclamamos.

Santo Agostinho, o doutor de Hipona, o Santo do coração ardente que encontrou repouso no Senhor em meio a inquietude da vida, aquece-nos comum pensamento finíssimo da mais bela e poética teologia sem deixar de palmilhar as trilhas da vida, nos dá as razões da alegria da festa de hoje: "A Igreja romana apresenta-nos hoje o dia glorioso de São Lourenço, quando ele calcou o furor do mundo, desprezando sua sedução e num outro modo venceu o diabo perseguidor. Nesta mesma Igreja - ouvistes muitas vezes - Lourenço exercia o ministério de diácono. Aí servia o sagrado sangue de Cristo; aí, pelo nome de Cristo, derramou seu sangue. O santo apóstolo João expôs claramente o mistério da ceia ao dizer: Como Cristo entregou sua vida por nós, também devemos entregar as nossas pelos irmãos (1Jo 3,16). São Lourenço, irmãos, entendeu isto; entendeu e fez; e da mesmíssima forma, como recebeu daquela mesa, assim a preparou. Amou a Cristo em sua vida, imitou-o em sua morte".

Lourenço, o mártir e o diácono, dizia com razão que os pobres eram a única riqueza da Igreja. Somos nós também pobres, somos pobres em nossas forças, nossos talentos, nossas capacidades, tudo que somos e temos parece tão pouco e pequeno diante da missão que nos aguarda cotidianamente. Mas somos pobres para melhor servir os pobres, não somos os grandes ou os privilegiados servindo os pobres e desvalidos, somos irmãos servindo irmãos. Como nos ensina S. João Batista Scalabrini que tinha como princípio de vida o mesmo ardor defendido por S.Lourenço: "Fazer feliz uma só pessoa é mais importante do que ser feliz". Daí vemos que qualquer necessidade das pessoas convertia-se em apelo para a ação. Seu coração era generoso, o Diácono precisa aprender e multiplicar na contemporaneidade onde acontece sua história, a generosidade. Scalabrini afirmava ainda: "Sinto-me enviado, em primeiro lugar, aos mais pobres e abandonados!", vivia e dizia: "Que maior alegria poderia haver do que ir ao encontro dos pobres, orientar os simples, libertar os oprimidos, enxugar as lágrimas dos aflitos, salvar as almas, fazer, enfim, um pouco de bem?" Essa questão é colocada para cada um de nós em nossos ministérios também hoje especificamente na data em que celebramos nosso dia.

Com um forte abraço a todos resta-nos interceder: São Lourenço roga por nós em nossos ministérios diaconais!!!

"Meu servo, não temas, contigo estou! Tu podes passar no meio das chamas: Nem cheiro de fogo te ficará" (Antífona do Benedictus).


Felizes por mais este Dia do Diácono, oremos como nos convida as Vésperas desta data querida por todos nós: "Ó Deus, o vosso diácono Lourenço, inflamado de amor por vós, brilhou pela fidelidade no vosso serviço e pela glória do martírio; concedei-nos amar o que ele amou e praticar o que ensinou. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo."

Um fraternal abraço, Na alegria do Senhor e no Carinho de Maria, paz e bem!

Seu irmão menor, Ronaldo Ronil, ofs.