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A quem interessa acusar?

28/04/2010

Diácono José Carlos Pascoal

Assessor de Comunicação da CND (ENAC) e Presidente do Regional Sul 1

“E eu te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (MT 16, 18).

O recrudescimento de denúncias de pedofilia praticada por presbíteros nos leva a refletir seriamente: a quem interessa acusar? Parece que estão querendo remexer nas entranhas da Igreja (estão buscando fatos acontecidos há décadas e anunciado como se fossem atuais), como se nela houvesse podridão e coisas escondidas há séculos.

Interessa aos inimigos de sempre da Igreja, que não acreditam na promessa de Cristo: “... não prevalecerão contra ela”. Interessa aos nãos cristãos, porque podem afirmar, entre outras coisas, a vantagem da separação Igreja/Estado, como se isso importasse, como poder terreno, à Igreja.

Interessa aos cristãos da “teologia da prosperidade”, porque esperam que a diminuição do poder da Igreja Católica aumente, em contrapartida o poder dessas seitas, como se importasse à Igreja o poder sobre todos os crentes. A Igreja acredita no poder de Jesus, que assim dá sustentação à Sua Igreja pela ação do Espírito Santo.

Interessa aos causadores de escândalos políticos, corrupção, violência, desvios de verbas públicas, porque alguém ou algo ocupa seu lugar no noticiário.

Interessa aos rábulas ávidos por dinheiro, que se preocupam em obter altas somas indenizatórias, insuflando vítimas ou até pseudo-vítimas, aproveitadores.

Interessa à grande mídia, porque tomam partido e passam de agentes da informação a agentes do escândalo, como se isso salvasse a humanidade de todos os males. Interessa audiência, vender jornais, ter mais acesso na rede.

Interessa a alguns que deixaram o ministério sacerdotal e passaram a ser críticos contumazes do celibato, como se o celibato fosse a causa de todos os males, em especial da pedofilia. Será que os pedófilos, como casados, respeitariam as crianças?

Mas interessa, sobretudo, à própria Igreja, que pode assim tirar proveito desse sofrimento, dessa chaga profundo em seu seio, depurando seu quadro de servidores. Interessa à Igreja para melhorar a formação nos seminários, com metodologia científica, psicológica e sócio-afetiva mais aprimorada.

Interessa à Igreja para poder conviver melhor com a sociedade de nossos tempos, agindo com rigor nos desvios provados, perdoando como Cristo manda, mas obedecendo às leis vigentes nas questões cíveis e penais, não se omitindo.

Interessa à Igreja não esconder seus pecados e pecadores, mas agindo para converter os causadores de escândalos, e manter sua integridade e grau de confiabilidade na sociedade.

Interessa à Igreja para proteger, ficar em torno do Sumo Pontífice Bento XVI, humilhado, execrado, juntamente com seus Bispos, por desmandos de alguns do Clero. Nós acreditamos na promessa: “... as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

As coisas recrudescem justamente no Ano Sacerdotal, como provação aos próprios presbíteros e bispos. É momento de orarmos com fé, com poder, estar junto dos sacerdotes, ampará-los, ajudá-los, ser família. O perigo da generalização é outra coisa que assombra. Você com certeza já ouviu alguém dizer: “nenhum político presta”. E os bons políticos, que sofrem desgaste por causa dos maus políticos, não merecem nosso apoio? Você com certeza confia em alguém.

Um brasileiro foi morto no metrô de Londres por ser confundido com um terrorista. Problema do tom da pele. Embora, como em outras religiões (inclusive cristã) há fanáticos em seus quadros, não se pode julgar um muçulmano de ser terrorista. Afinal, quem reza a Alá (Deus) seis vezes ao dia não pode pensar em praticar o mal.

Então, não se pode julgar os sacerdotes, muitos deles santos, pelos pecados de alguns. Em todos os setores há bons e maus, no Clero católico não é diferente, embora sejamos chamados por Deus a sermos “santos e irrepreensíveis diante de seus olhos” (cf. Ef 1, 4). A Igreja, por seu Fundador, Jesus Cristo, é Santa; por causa de nós, é Pecadora. Que o sacrifício de Jesus na Cruz não tenha sido em vão, somos chamados à conversão, à Salvação.

Que neste momento difícil, nós os diáconos permanentes e nossas famílias sejam verdadeiras famílias em acolhimento, apoio e fraternidade aos nossos presbíteros. Não nos unamos aos “julgadores” e “murmuradores”, mas peçamos ao Espírito Santo sabedoria e discernimento para conduzir nosso relacionamento com nossos irmãos do Clero.

Data do artigo: 28/04/2010