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A virtude da Esperança

22/11/2019

Padre Enéas de Camargo Bête - Diocese de Jundiaí/SP

Caros amigos, a Esperança é infundida por Deus na vontade e é por ela que confiamos um dia alcançar a Vida Eterna: “A Esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (Catecismo da Igreja Católica, 1817). A virtude da Esperança é, então, a certeza que temos da ajuda de Deus para possuí-lo, nesta vida, pela graça santificante, e no céu, pela glória eterna.

As virtudes da Esperança e da Fé se entrelaçam uma na outra, porém cada uma tem a sua essência e sua funcionalidade. “A fé, que me diz que Deus quer ver salvos todos os homens, deve ser completada pela esperança de que Deus me quer salvar e pelo amor que corresponde ao desejo, e sela com a convicção a minha esperança. Assim, a esperança oferece a cada alma a substância de toda a Teologia… O que eu creio pela fé, o que eu compreendo pela Teologia, eu o possuo e faço meu pela esperança. A esperança é o limiar da contemplação, porque a contemplação é uma experiência das coisas divinas, e nós não podemos experimentar o que não possuímos de algum modo. Pela esperança nós tocamos na substância daquilo que cremos; pela esperança já possuímos a essência das promessas do amor divino” (Thomas Merton. Homem Algum e uma Ilha).

A âncora ficou conhecida na história como símbolo da Esperança, pois representaria a parte estável do nosso ser, aquela que, em meio a tempestades, é capaz de manter a firmeza: “A esperança é como âncora para a nossa vida. Ela é segura e firme, é penetrante até o outro lado da cortina do santuário” (Hb 6,19). Neste sentido ensina o Papa Bento XVI: “Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar, por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar. Ele pode ajudar-me” (Encíclica Spes Salvi, 32).

No Antigo Testamento termos como yahal, tohelet e kesel – entre outros – designam a Esperança do povo em relação a ação de Deus na história: libertação do Egito ou do Exílio, cumprimento das promessa messiânicas, confiança na justiça final de Deus. “Israel, coloque a esperança em Javé, desde agora e para sempre!” (Sl 131[130], 3).

No Novo Testamento os termos gregos elpis (substantivo) e elpizein (verbo) são traduzidos, respectivamente, como “esperança” ou “ter esperança” e estão relacionados a: Esperança da ressurreição dentre os mortos (At 26,6; 1Cor 15,19; 1Pe 1,3); Esperança da glória de Deus (Rm 5,2); Esperança da justiça (Gl 5,5); Esperança da salvação (2Cor 1,10); Esperança da vida eterna (Tt 1,2); Esperança da segunda vinda triunfante de Cristo (Tt 2,13; 1Pe 1,13; 1Jo 3,3).

Os dois principais pecados contrários à Esperança são o desespero, que consiste em achar que nunca poderemos alcançar a vida eterna, ou que Deus nunca nos perdoará dos nossos pecados, e a presunção, que consiste em acharmos que podemos possuir a Deus sem a Sua ajuda.

Diante disso é preciso nos lembrar que “em meio às dificuldades e sofrimentos do tempo presente, Deus nos alimenta, consola e fortifica com a Esperança. As tribulações da vida não apagam a Esperança, ao contrário, fazem com que esta desperte com uma força admirável e nos empurre para frente, sempre nos mostrando que ainda há possibilidades” (Raniero Cantalamessa. Preparai os Caminhos do Senhor).

Para saber mais leia a belíssima encíclica Spes Salvi do Papa Bento XVI.