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O AMOR AOS OUTROS EXIGE PRUDÊNCIA

22/06/2020

O AMOR AOS OUTROS EXIGE PRUDÊNCIA

Dom Joaquin Pertiñez Fernández, OAR

Bispo Diocesano de Rio Branco (AC)

     Todos temos um grande desejo de voltar às celebrações da nossa fé, mas o amor aos outros, e a si mesmo, exige de nós velar com muito cuidado e prudência, para salvaguardar a saúde de todas as pessoas.

     Chegam até mim diversos comunicados e informações que me fazem pensar e me preocupam. Tenho a impressão de que há muita estratégia interessada por trás deles. As propostas são sempre necessárias, e mais neste tempo de grave dificuldade, mas devem estar também carregadas de uma boa e reta consciência.

     A CNBB se adiantou a decretos governamentais. Todos os bispos aderiram a mesma preocupação e reponsabilidade. Fechamos nossas paróquias, sim, mas não com o interesse de prejudicar ninguém na sua fé, nem seguimos os métodos e interesses de outras denominações religiosas, com medo de perder fiéis.

     Algum sacerdote me pede para que abramos de novo nossas paróquias. Não quero usar a palavra igreja, pois a Igreja está em cada um de nós e ela continua aberta. Somos o Corpo de Cristo! Embora não sei se chegamos a acreditar verdadeiramente nisso. Com certeza, se rezássemos mais este mistério, seríamos mais comunidade, apesar de que nossas paróquias permaneçam fechadas por causa desta pandemia.

      Não se trata, como muitos podem pensar, de uma medrosa prudência episcopal, mas de uma decisão extraordinária para preservar a saúde pública, a saúde de todos. Eu posso dar liberdade para que o pároco abra o templo (estou seguro de que alguns o fariam por verdadeiro zelo pastoral), mas isso seria fugir da minha responsabilidade pastoral.

     E, para mim, não vale o que falam algumas pessoas: Se abrir, e rezar missa, Deus nos ajudará! Isso é tentar a Deus. Nossa responsabilidade é cumprir o quinto mandamento: não matarás, não faças mal, nem a ti mesmo, nem aos outros. Como eu posso brincar com a vida dos fiéis de nossas comunidades, que devo presidir na caridade? Ou, não expor a vida dos fiéis, muitos deles idosos, não é também defender a vida? Nisto, não vale desculpa alguma.

     Eu sinto, e sofro muito, vendo nossos templos fechados, não ter celebrações, até quando os familiares não podem despedir seus entes queridos ... Mas, todos devemos entender que este é um tempo excepcional, tempo de atravessar o deserto, onde não há nada, nem sequer um oásis, pois o que podemos ver no horizonte, pode ser uma ilusão passageira. Agora o Êxodo se está fazendo realidade para nós. E, também, para os verdadeiros católicos, é um tempo de provação.

      No domingo passado, dia 07 de junho, o Papa Francisco, fez uma referência ao número de mortes provocadas pelo coronavírus no Brasil, durante a cerimônia do Ângelus. Dirigindo-se a centenas de pessoas que recebiam a bênção na praça de São Pedro, o Papa apontou que a Covid-19 continuava fazendo muitas vítimas, "especialmente na América Latina". "Na última sexta-feira, em um país, uma morte por minuto! Terrível!", ele disse.

      Embora não tenha citado nominalmente o Brasil, o Papa Francisco fez referência à marca de 1.473 mortes em um período de 24 horas, alcançada pelo país na última quinta-feira, dia 04 de junho, exatos cem dias após a confirmação do primeiro caso de coromavírus no país. Também nessa mesma quinta-feira, o Brasil cruzou a marca de 34 mil mortes em decorrência do novo coronavírus, e superou a Itália, país que simbolizou primeiro a tragédia, tornando-se o terceiro no ranking de óbitos resultantes da doença no mundo. O Papa ainda pediu aos italianos que não baixassem a guarda contra o coronavírus, agora que as taxas de infecção caíram. "Sejam cuidadosos. Não cantem vitória cedo demais", em resposta aos aplausos da multidão.

     E, os números de cada dia no Acre, mostram para todos, que nossa realidade está muito pior daquela quando tomamos a iniciativa de fechar as portas de nossos templos.

     Eu não desanimo, nem penso que com estas medidas alguns deixem de vir a celebrar sua fé nas paróquias, como alguns estão pensando. Essa seria uma mesquinha desconfiança na fé de nossos católicos. Eu creio em todos os que formamos parte deste grande corpo que é nossa Igreja, Diocese de Rio Branco, nos presbíteros, diáconos permanentes, religiosas, ministros extraordinários, agentes de pastoral, movimentos ... Todos e cada um dos verdadeiros católicos da nossa Igreja particular!

     Não devemos ter medo, pois Cristo está no meio de nós. E, quando chegar a calmaria, após este temporal, além do que cada paróquia possa fazer, penso em uma grande celebração eucarística, onde celebremos a vida daqueles que já passaram para o outro lado durante esta dura passagem. Lembraremos de todos, e rezaremos por todas suas famílias, junto à luz do Ressuscitado.

      Ânimo e olhemos para frente, sempre confiantes n'Aquele que vai abrindo o caminho para nós! Rezemos por todas as vítimas, e por todos os que ainda sofrem as consequências deste mal.