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Rezar uma oração forte

23/04/2020

Rezar uma oração forte

* Diácono José Carlos Pascoal

Estando, certa vez, auxiliando o pároco Monsenhor Mário Negro na Casa Paroquial em Salto (SP), que recebia a visita do sacerdote franciscano Frei José, do Maranhão, nos deliciávamos com a conversa sobre a Renovação Carismática Católica, seus efeitos em especial nas cidades pequenas, os dons carismáticos em abundância e os frutos do Espírito na vida de muitos católicos. Era os idos de 1987 e a RCC dava seus passos com dificuldades na Diocese de Jundiaí (SP).

Uma senhora entrou abruptamente na casa e, se dirigindo ao Frei José, foi logo pedindo uma oração forte, pois estava tensa, doente, e sabia que o sacerdote poderia ajudá-la. Calmamente, o Frei impôs as mãos sobre ela e começou a rezar o Pai-Nosso. Nem bem começou a oração e ela o interrompeu dizendo: “eu pedi uma oração forte e o senhor rezar uma oração que já sei? Quero uma oração forte, Frei!”. Novamente e com calma, ele, recomeçou: “Pai-Nosso, que estais no céu...”. Foi novamente interrompido pela senhora, agora muito nervosa.

Sem nenhuma reação por parte do pároco e minha, o religioso pediu que a senhora se sentasse e começou a explicar: “Quando os apóstolos pediram a Jesus que os ensinasse a rezar (Lc 11,1-4), Ele não deu nenhuma aula de teologia, nem de catequese. Simplesmente ensinou a mais poderosa das orações: o Pai-Nosso, que contém o louvor, a adoração, a contemplação, a intercessão, o perdão, a misericórdia”. A senhora não se conformou e saiu contrariada. Frei José disse calmamente: “Ela um dia vai entender que, se o próprio Jesus ensinou a rezar assim, por que devo inventar orações para agradar pessoas? A oração do Pai Nosso é oração que cura, liberta, leva à contemplação do Pai que nos ama”.

Em um Dia de Louvor da RCC em Jundiaí, num Ginásio com mais de 8 mil pessoas, o pregador era o conhecido campão de Xadrez Henrique Mecking, então seminarista em Taubaté (SP). Mequinho dava testemunho de cura milagrosa de miastenia grave e seus dons carismáticos afloravam. Conversamos antes do evento que os presbíteros da Diocese não gostavam de que alguns dons fossem usados: oração em línguas, repouso no Espírito. Mequinho disse que entendia essa preocupação e deixaria o Espírito Santo agir de maneira a não causar problemas. Então, quando proclamava cura e libertação ele rezava o Pai Nosso, a Ave-Maria, o Credo, e o Espírito Santo agia na vida das pessoas, curando e libertando. “O Espírito age onde quer, como quer e para quem quiser”, afirmava.

Então vejamos: quando queremos oração forte, temos alternativas bíblicas e eclesiais. A oração do Pai-Nosso foi ensinada pelo próprio Jesus e os apóstolos nos deixaram como herança. A oração da Ave-Maria teve autores inspiradíssimos: A parte inicial foi dita pelo arcanjo Gabriel à Virgem Maria, reconhecendo sua santidade e virtudes (Lc 1,28): “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Em seguida temos a exclamação de Isabel, cheia do Espírito, quando recebe a visita de Maria (Lc 1,42): “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. A Igreja, na sabedoria do Espírito Santo completa a oração, de maneira intercessora, reconhecendo o poder de intercessão da Mãe de Jesus: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Por fim, completamos a “oração forte” louvando, glorificando e testemunhando a Santíssima Trindade: “Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo”. Fiquemos atentos ao que o próprio Jesus nos ensinou (Mt 6,5-15): “Quando orardes não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens (5); Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e ora ao teu Pai em segredo (6); Nas vossa orações não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força das palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais (7-8)”.

Aprendamos a rezar com simplicidade. Tenhamos a humildade de não impor aos fiéis as nossas orações multiplicadas. Saibamos reconhecer na simplicidade das orações da Igreja o poder que vem do Alto.

* Exerce seu ministério diaconal permanente na Paróquia São Benedito de Salto (SP), Diocese de Jundiaí (SP). Faz parte da ENAC – Equipe Nacional de Assessoria de Comunicação da Comissão Nacional dos Diáconos – CND.