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A DOR DA PERDA EM TEMPOS DE PANDEMIA

22/03/2021

A DOR DA PERDA EM TEMPOS DE PANDEMIA

* Diác. Alberto Magno

A morte entrou no mundo com a desobediência de Adão e Eva que, enganados pela serpente e por orgulho, transgrediram a ordem de Deus. Como consequência, a perda do paraíso. Este ato repercutiu em toda a descendência do primeiro casal. A partir daquele momento o homem teria que comer o pão com o suor do seu rosto (conforme Gn 3,19).

A dor, o sofrimento e a morte vieram nos fazer companhia em nossa jornada terrestre. É natural que rejeitemos tudo isto, pois fomos criados para a felicidade. Essa rejeição é ainda mais forte nos tempos atuais. A mentalidade hedonista nos dificulta entender a razão de tudo isso.

            É comum ouvir: nós fomos criados para a felicidade. Mas o que é a felicidade? Todos queremos ser felizes. E queremos ser felizes de maneira total, completa, sem limite. Bem-estar total, sem fim. Dor, sofrimento, morte... são situações que não combinam com esse desejo de felicidade eterna. A certeza da morte não diminui nossa perplexidade. É um tema que evitamos. Se fosse possível, por esta porta não passaríamos.

            Se Deus é amor? Se realmente nos ama? Por que permite a dor, o sofrimento e a morte? Por que acontecem coisas como essa pandemia que, de repente, assola o mundo inteiro? Tira nossa paz e nossa liberdade e ainda toma nossos entes queridos?

            O cotidiano que vivíamos desapareceu. Tudo agora está diferente. As pessoas em público escondem-se atrás de máscaras, como se tivesse vergonha do próprio ser. Ninguém mais se toca, se abraça. Para os amigos e parentes, no máximo um aceno e um sorriso amarelo que não se vê.

            Diante dessa dura realidade muitas são as emoções que nos afloram: sentimento de impotência; medo e até pânico. A verdade é que ninguém fica indiferente. A morte está nos jornais, na TV, nas redes sociais, na minha cidade, no meu bairro, nos meus amigos e conhecidos e também na minha casa. Mesmo sabendo que é o destino inevitável de todos nós, não nos conformamos. Especialmente neste momento que ela parece onipresente.

            Onde está Deus? Virou o rosto para nós (Is 59,2)? Estamos então diante de um Deus mau e vingativo que deseja nossa perdição? Muitas perguntas. Não, Deus não abandona o homem, embora Sua visão esteja momentaneamente velada. Nos deu a Lei e os profetas para que pudéssemos trilhar o caminho de volta para o paraíso. Enviou o próprio Filho para que nos resgatasse. Jesus, o Cristo, que deu sua vida em pagamento pelos nossos crimes.

            Deus nos ama a todos e a cada um com amor infinito. Porém, pelo fato mesmo de nos amar nos deixou completamente livres. O mal entra no mundo através de nossas escolhas que nos levam para longe do plano divino. Trocamos a sabedoria divina pelo conhecimento científico. O prazer em lugar do verdadeiro amor. O individualismo em vez da comunhão. O acumular em vez de partilhar. Construímos nossos bezerros de ouro e pusemos Deus para fora de nossas casas, de nossas instituições, de nosso país... Pusemos nossa confiança em um deus criado à nossa imagem.

            Santo Afonso Maria de Ligório nos ensina que Deus não permitiria o mal se dele não pudesse tirar um bem maior. Deus nos ama, nos criou por amor para que nós pudéssemos conhecê-lo, amá-lo, servi-lo. Deus não criou o mal que é fruto do orgulho e da inveja de Satanás. O inimigo enredou o homem em seu jogo espúrio. Nós caímos. Isso teve e tem consequências.

            Pelo mistério da vontade Divina, a solução para o pecado da humanidade veio exatamente da dor, sofrimento e morte de Seu Filho na Cruz. Ao contemplar Jesus na Cruz é preciso darmo-nos conta que é por nós... é por mim... que Ele se entregou.

            Compreender o momento presente exige um olhar sobrenatural sobre os acontecimentos. Tudo isto deve nos levar a refletir sobre nossa vida, nossos valores, nossos objetivos... Para onde estamos indo? Que sociedade queremos? Que lugar Deus ocupa em nosso viver?

            A dor e o sofrimento em nossa vida nos configura ao Servo Sofredor. Se este é o caminho querido por Deus, temos certeza de que não haveria outro melhor.

Após a Cruz, viveremos a alegria da ressurreição.

* CRD Centro Oeste. É Assessor de Relações Internacionais da CND