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A vida da palavra ou a Palavra em nossa vida

01/03/2011

Diácono Juranir Rossatti Machado

Breve momento de reflexão pessoal diante da palavra

Em que momento foste semeada no ventre da necessidade da comunicação humana, levando às experiências do homem tua marca? Os séculos que se passaram não nos deram resposta e, neste estágio em que se encontra nossa inteligência, perante ao emaranhado de hipóteses, acredito ser impossível fixá-lo em algum ponto dentro daqueles tempos imemoriais de nossa história. Desconfio que teu surgimento será sempre uma salutar provocação ao nosso espírito pesquisador. Deixo de lado estas especulações porque desejo admirar-te apenas nas vozes que escuto ou contemplar-te nas letras que surgem à minha frente. Não me preocupo em identificar, de modo claro e definitivo, o semeador, embora seja inclinado a acreditar que vens da Palavra Incriada, da qual trazes, de maneira extremamente limitada, a força da criação. Dela és reflexo. Dela és dom. Na verdade, almejo deixar que minha mente registre tua presença em situações de nossa vida, como se eu quisesse registrar tua própria vida em nossa existência.

Abram-se os lábios e proclamem tua presença! Abram-se os olhos e proclamem tua presença! Ora te ouço, ora te vejo! Que meus sentidos não te percam e meus pensamentos não te confundam!

Com que finalidades vieste ao mundo? Deverias ter um único propósito: seres instru-mento modelador das aspirações construtivas do homem! Não te norteia o objetivo único no tecido social, pois, inseparável de cada um de nós e seguindo-nos em todos os nossos atos, és submissa à liberdade daqueles que fazem uso de ti.

Tu te fazes presente na boca dos simples e nos lábios refinados. Nos simples, tu te vestes sem ostentação; nos requintados, pareces saltitar vaidosamente. Insegura, tremes na boca dos ignorantes, daqueles que não manejam a arte de articular-te e, tantas e tantas vezes, dão a impressão de querer ocultar-te em seu interior. Firmas-te nos lábios do sábio e deles sais como lampejos da sabedoria espalhada no mundo e captada pelos que pertencem ao círculo da sensibilidade. Percebo-te na voz que constrói a dignidade do homem, valorizando-o e procurando despertar nele as potencialidades ocultas. Sinto-te no pregão amargo das discórdias que nos impedem de fortalecer os laços da confraternização. Estás na paz e estás na guerra. Estás no coração dos santos e estás no coração do pecador. Permite que este poeta que te ouve e vê prossiga mais um pouco nestas divagações que o animam diante da inesgotável riqueza de teus múltiplos valores! Ele não persegue a profundidade! Ninguém falará suficientemente sobre ti! Ninguém.

Impressiona-me tua presença na dimensão lúdica do homem; e teu envolvimento nos passatempos que a vida nos apresenta me entusiasma.. Ainda há pouco, ouvi-te na tagarelice das crianças e nas piadas dos adultos. Também na linguagem experiente da velhice. Estás presente na rede de informações que transmites àqueles que delas necessitam e aprecio, nesse teu ofício, tua objetividade e precisão. Ouço-te, trazendo contigo, entre interjeições, a comunicação subjetiva de sentimentos recheados de emoção. Estás presente na musicalidade e plurissignificação dos poemas, enfatizando muito mais a forma do que o próprio conteúdo. Ouço-te na ordem que passa pelos lábios maternos em direção à consciência dos filhos e nas súplicas das preces que vêm da convicção do crente. Vejo-te ou te ouço nas explicações e definições que, vez por outra, se pedem a respeito de um ou outro termo que proferes. Enfim, sinto-te naquele cumprimento que busca algum contato comigo ou naquela saudação que parte de mim em busca daqueles que me cercam.

Meus lábios e olhos se fecham, porém não se desvanece a visão. Interiorizo-a. Não se cansou a minha mente. As maravilhas que partem de ti continuam me extasiando; mas, agora, diante de ti, busco a contemplação dentro de mim mesmo; por isso, meus lábios se fecham e cerram-se meus olhos. É possível que eu esteja desejando perceber mais profundamente, em meu íntimo, o pulsar de tua vida, para, mais tarde, de modo mais consciente ainda, deixar-te vir aos ouvidos do mundo. Muito obrigado pela tua vida em minha vida! 

Diác. Juranir é membro da ENAP-Equipe Nacional de Assessoria Pedagógica da CND.

Data do artigo: março de 2011