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A Violência contra a pessoa idosa

21/11/2019

Diácono José Carlos Pascoal
Presidente do Conselho Municipal do Idoso de Salto/SP

“Dá ouvidos a teu pai, àquele que te gerou, e não desprezes tua mãe quando envelhecer. Adquire a verdade e não a vendas, adquire sabedoria, instruções e inteligência. O pai do justo exultará de alegria, aquele que gerou um sábio alegrar-se-á nele. Que teu pai se alegre por tua causa, que viva na alegria aquela que te deu a luz”. (Provérbios 23, 22-25)

Sempre foi motivo de alegre expectativa a visita à casa dos avós para ouvir suas histórias (ou estórias), saborear as deliciosas comidas, os deliciosos licores. Era raro ouvir falar ou presenciar um ato de violência, com exceção das “rusgas” de sogra e nora. A sociedade mudou, dizemos nós. Hoje nos falta tempo para visitas, estamos movidos pelo cotidiano do trabalho, do consumismo, do individualismo. Isso tem afetado nossas relações sociais e familiares, com prejuízo que parece cada vez mais irreparável.

Lembro um ditado popular: “uma mãe cuida de 10 filhos; dez filhos abandonam a mãe”. Um amigo, que cuidou do pai até o falecimento deste, e cuida da mãe doente, acha inconcebível alguém praticar violência contra uma pessoa tão fragilizada. Infelizmente, isso tem acontecido de maneira geral: violência moral, sexual e psicológica, violência financeira, física, sob a forma de exclusão sócio-afetiva. As Instituições de Longa Permanência de Idosos estão cada vez mais superlotadas de idosos abandonados por seus familiares. Os idosos estão sendo “arrancados” dos seus convívios, e colocados em instituições distantes de seus locais de origem, o que provoca a falta de visitas, o rompimento do vínculo familiar (art. 49, I, do Estatuto do Idoso).

Os Conselhos Municipais do Idoso recebem rotineiramente denúncias de várias formas de violência: o aproveitador (geralmente da família) que usa os documentos e assinatura da pessoa idosa para fazer financiamentos de bens e empréstimos consignados; o neto usuário de drogas, que comete violência física para subtrair dinheiro; idosos doentes abandonados em cômodos sem higiene, alimentação e remédios. Ou, simplesmente abandonados nos chamados “lar” ou “asilo”, alguns sem estrutura, como que “depósito” de idosos. A fiscalização compete aos órgãos públicos, mas, principalmente ao Conselho Municipal do Idoso.

15 de junho é o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Momento de agir, romper o silêncio, divulgar os direitos (e deveres), não perder a utopia de que é possível mudar esse estado de coisas, de refletir seriamente como está nosso relacionamento familiar, a educação no trânsito, nos atendimentos hospitalares, bancários, órgãos públicos, resgatar com as crianças, adolescentes e jovens o respeito necessário. A população está envelhecendo, a perspectiva de vida aumentando e os casais gerando menos filhos.

Muita gente se esquece que vai envelhecer. Não é para ficar ensimesmado com isso, mas se preparar dignamente para o envelhecimento, respeitando já os idosos.