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ANO VOCACIONAL E A IGREJA DOMÉSTICA

04/05/2020

ANO VOCACIONAL E A IGREJA DOMÉSTICA

“As Igrejas da Ásia mandam saudações. Áquila e Prisca, com a Igreja que se reúne na casa” - 1Cor 16,19

Rodrigo Dias – candidato ao Diaconado Permanente na Diocese de Ilhéus (BA)

     Saúdo todas as Igrejas doméstica de nossa querida diocese de Ilhéus! Estamos vivendo em tempo de distanciamento social, por causa do novo coronavírus - (COVID-19) e em respeito e atendimento às autoridades civis, orientações dos profissionais de saúde e da nossa diocese. Assim, seguimos em todas as paróquias as celebrações realizadas as portas fechadas e sem a presença dos fiéis, que estão vivendo a singular experiência de sua fé na Igreja doméstica junto a família.

     Nesse sentido, nos cabe dizer que jamais imaginaríamos que, em Ano Vocacional seríamos chamados a viver a nossa vocação mais evangélica, no aconchego do nosso lar, que é justamente o que sugere a Igreja doméstica. Sabemos que muitos já escreveram sobre a Igreja doméstica, mas não quero com esse texto fazer um estudo eclesiológico deste espaço sagrado, e sim contar à luz da experiência da minha família o dom e graça de rezar pelas vocações em sintonia com nossa diocese.

     Nas comunidades de cidade pequena, é comum ou era cotidiano escutar ao chegar alguma pessoa na nossa casa um bordão que, quase como uma canção de um final de tarde, soava como um convite para um café. Daí, quem nunca ouviu um "Oi de Casa"?! E como se fosse uma espécie de pedido de licença para adentrar o nosso lar, a nossa casa. Almejo como esse texto, convidar você a viver a experiência da Igreja doméstica, deixar ecoar o "oi de casa" para que a Igreja doméstica faça parte do seu lar. - Oi de casa?! Você que está no sofá! Você que está saindo para cuidar de gente! Você que está brincando com as crianças, que está na cozinha ou que está com a bíblia e com terço na mão para rezar! Deixe ecoar a Igreja doméstica em seu lar, pois quero dois dedos de prosa com você! Pode ser?

     A nossa casa, além de se constituir como abrigo e proteção, define-se como o centro da vida e da identidade da pessoa. Assim, nos cabe dizer que é na Igreja doméstica que nasce as vocações. Com isso, destacamos que durante este período de distanciamento social, tenho visto o esforço de nosso bispo, nossos padres e diáconos, pastorais e movimentos que, com criatividade e solidariedade incentivam e rezam juntos com a Igreja doméstica. E desde Domingo de Ramos, ao contemplar as casas do bairro veio em meu coração o que diz o monge Goffredo Boselli:cristianismo é obra da liturgia; forja-o, forma-o e conforma-o. Por isso, a liturgia não é efeito, mas origem. É muito mais ventre e matriz do que produto e resultado. A liturgia nos precede, está na nossa frente, por ela somos, de fato, convocados. Dela nos aproximamos como de uma realidade que não dispomos totalmente, e da qual, tanto menos, somos donos. Nela somos acolhidos e hospedados, sem permanecer estranhos, somos convidados e nos sentamos à mesa, e partilhamos o que nutre a fé. Quando se entra na liturgia, não se decide somente entrar num espaço para passar um determinado tempo, mas escolhe-se antes de tudo uma postura, isto é, escolhe-se e adere-se a um modo de ser homem ou mulher, busca-se um modo de estar no mundo, diante de Deus e diante dos outros, em resumo, permite-se uma verdadeira e própria metamorfose, aquela em que “somos feitos cristãos”.

     Deste modo, não tenho dúvida que a nossa Igreja doméstica é o espaço sagrado  da liturgia da vida, da festa da comida e da ressurreição, já que “Jesus gostava de festa de casa, lá provavelmente ele cantava, dançava, suava, fazia sinal, acolhia, era acolhido, ia à mesa, entrava na cozinha , destampava as panelas. E o cheiro de Emanuel (Deus conosco) invadia a casa”.

     Como também, nos chama atenção o versículo do Documento 109 da Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB): “a Igreja como imagem de uma casa que acolhe, celebra é missão”. Este Documento nos diz que a casa foi um dos lugares privilegiados para encontro e o diálogo de Jesus e seus seguidores, pois eram nas casas que Jesus curava, partilhava a mesa com publicanos e pecadores, orientava sobre o comportamento da comunidade e a importância de se ouvir a palavra de Deus. É, neste contexto da casa, lugar privilegiado que nós cristão da Diocese de Ilhéus devemos rezar pelas vocações.

     Vocação é um chamamento, uma destinação de futuro. É comum em nossas casas ao redor das mesas perguntamos aos nossos filhos qual a (vocação) profissão que se dedicar, por exemplo. E muitas vezes as respostas de nossos filhos trazem um componente econômico das profissões que resultam em alto grau de fama, status ou retorno financeiro. Mas, a pandemia tem nos ensinado que não há satisfação maior de uma profissão do que a que luta a favor da vida, da proteção e necessidade básicas humanas. 

     Neste momento que, devemos rezar para que em nossa Igreja doméstica, tenhamos mulheres e homens vocacionados e, que estas pessoas vocacionadas ecoem a voz que brota dos corações. Qual é a voz que se faz ouvir dentro do coração do homem e da mulher? Qual a voz que estamos ecoando em nossas casas? Será a voz do capital (dinheiro), que só almeja pelo lucro? Ou a voz de Jesus de Nazaré que chama à vida, à compaixão, à missão e ao Reino? Fica esta pergunta para a nossa reflexão.

     Somos chamados a abrir-nos para a escutar e seguir a voz que nos chama em nossas casas a uma experiência do encontro com Ele. Como no bordão “oi de casa!". É voz que ressoa em nossos corações neste ano vocacional! Escutar, eis o desafio mais cruel dos nossos dias. Escutamos em nossos ouvidos, os rumores do mundo externo, quer seja o ruído, vozes ou a música que nos consola. Porém, quando falamos da escuta de Deus, sentimos que há outro nível de audição que precisamos aprender. Não apenas uma escuta com os ouvidos ou desinteressada, e sim uma escuta com o coração. Na regra de São Bento há uma expressão essencial “Abre o ouvido do teu coração”, pois a escuta do não é somente exterior, de sons e ruídos, mas também do interior da voz que ecoa dentro de cada uma pessoa.

     Também a escuta é uma forma de hospitalidade, de ternura e acolhimento nestes dias na vivência da Igreja doméstica, esta experiência é crucial para animação vocacional no seio da família. Viver neste ano vocacional a escuta, é a arte de resistência neste mundo barulhento, autoritário, que nega uma prontidão. A escuta constrói uma vigilância interior que lhe permite atuar com rapidez e cuidado. Enfim, a qualidade da escuta determina a qualidade da resposta.    

     Por fim, para uma experiência de fé a partir da Igreja doméstica, se faz necessário o cuidadoso escutar, pois é no ambiente familiar que a Igreja do cotidiano se revela nas tarefas mais simples. Deus nos chama para uma Igreja que reconhece na escuta da vida de si e do outro a plenitude de estar em sintonia com Evangelho. Paz e bem no seu lar! Fique em Casa!