BREVE TRATADO SOBRE ANUNCIAR A ESPERANÇA
25/12/2020
* Diácono Pedro Fávaro Jr.
Com que olhar deve, o diácono permanente, visualizar o ano de 2021 que se avizinha e chega em breve, para ser um profeta da esperança no ano que vem? É compreensível se houver, no nosso colegiado, irmãos com a visão pessimista de que, se nada mudar, o Brasil chegará à metade de 2021, na casa das 300 mil vidas perdidas, enquanto os maus políticos e as pessoas de boa fé, iludidas por eles, continuarão discutindo se a vacina é um bem ou é uma arma chinesa para colonizar o mundo.
Claro que essa visão pode ainda se aprofundar se o diácono tiver experimentado as dores da Covid-19 na própria carne ou na carne de parentes, amigos e fiéis assistidos por ele. Mas aqui, trata-se de refletir sobre como anunciar a esperança. E o diácono precisa enxergar tais acontecimentos, a partir de sua missão, como um aprendizado e repetir com São Paulo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2Cor 1, 3s)
Qual deve ser, então, a esperança ativa para 2021, para os diáconos permanentes? Para responder, é preciso lembrar que Deus “designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4, 11-13). O texto de Paulo recorda o ministério apostólico entregue ao diácono, apontado, sobretudo, para revelar o rosto de Cristo na periferia da humanidade, para onde as nossas urbes varrem descaradamente os mais pobres e sofredores.
Portanto, é de se concluir que o ministério diaconal só manifesta a esperança viva, o amor do Ressuscitado, para muito além do ensino e pastoreio, quando toca concretamente a enfermidade da desigualdade social, como Cristo tocava a carne dos leprosos e os curava. A esperança ativa para os diáconos estará, sempre e primeiro, nessa efetiva participação na dimensão da Caridade, a partir do impulso do Espírito Santo, porque é só a partir desse impulso que surge, de fato, o rosto do Cristo Servo e Servidor entre nós.
Outra condição para se preservar a esperança ativa, em 2021, pela ação diaconal, pode se ver numa breve reflexão sobre a Carta a Timóteo, escrita para as primeiras comunidades cristãs. “Os diáconos devem ser respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados ao vinho, sem cobiçar lucros vergonhosos, conservando o mistério da fé com uma consciência limpa... Sejam esposos de uma única mulher, governem bem os filhos e a própria casa...” (Tm 3, 8.9.12)
Fiquemos no ser homens de uma só palavra. Tal atitude, para o nosso tempo, imerso em tanta falsidade e liquidez de valores, por si só é garantia de semear uma esperança ativa, viva, transformadora e alicerce para um mundo melhor. É também testemunho fiel. Já, o contrário por exemplo, pode se manifestar dos mesmos modos escolhidos pela maioria – já que o diácono tem todos os limites humanos –, como distribuir fake news, notícias falsas e falaciosas pelas redes sociais, para defender suas posições pessoais, um desserviço à humanidade e um instrumento de ódio usado só pelos hipócritas, pelos homens de duas caras e sem palavra.
Os diáconos devem ser homens respeitáveis, de consciência limpa porque se não forem, ainda que subam ao altar, proclamem o Evangelho, façam seus jejuns e deem suas esmolas, não serão ministros de Deus. Serão apenas atores sociais. E péssimos atores. Talvez seu contratestemunho e a incongruência entre o que são e o que deveriam ser os impeça até de trabalhar numa ONG de quinta categoria. Certamente a receita vale para se anunciar a esperança em 2021, mas também em qualquer tempo.
* Jornalista e escritor, exerce seu ministério diaconal na Diocese de Jundiaí (SP)