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CARDEAL ROBERT SARAH - "EM DEUS OU NADA - ENTREVISTA SOBRE A FÉ

07/01/2023

CARDEAL ROBERT SARAH -

"Infelizmente, logo após o Concílio Vaticano II, a constituição sobre a liturgia não foi compreendida a partir do primado fundamental da adoração, do ajoelhar-se humilde da Igreja diante da grandeza de Deus, mas antes como um livro de receitas... Vimos todas as espécies de criadores ou animadores que procuravam antes encontrar artifícios para apresentar a liturgia de maneira atraente, mais comunicativa, sempre envolvendo mais pessoas, mas esquecendo -se de que a liturgia é feita para Deus.   Se Deus se torna o grande ausente, todos os desvios são possíveis, dos mais banais aos mais abjetos. 

Bento XVI lembrou muitas vezes que a liturgia não poderia ser uma obra de criatividade pessoal. Se fazemos a liturgia para nós, ela se afasta do divino; ela se torna uma peça teatral ridícula, vulgar e lamentável. 

Resulta em liturgias que parecem operetas, uma festa dominical para se divertir ou se alegrar juntamente após uma semana de trabalho e de preocupações de toda a espécie. Desde então, os fiéis voltam às suas casas, após a celebração eucarística, sem terem encontrado pessoalmente Deus, nem tê-lo escutado no mais íntimo de seus corações.

Falta o face a face contemplativo e silencioso com Deus que nos transforma e nos devolve energias que permitem revelá-lo ao mundo cada vez mais indiferente em questões espirituais. O coração do mistério eucarístico é a celebração da Paixão, da morte trágica de Cristo e de sua ressurreição; se este mistério é abalado por longas cerimônias brilhantes e extravagantes, deve-se temer o pior. Algumas missas são de tal modo agitadas que não se diferenciam de uma quermesse popular. Devemos redescobrir que a essência da liturgia está eternamente marcada pelo cuidado da busca filial de Deus.

Se o elo entre Deus e os cristãos desvanece, a Igreja torna-se uma simples estrutura humana, uma sociedade entre outras. Então a Igreja se banaliza; ela se mundaniza e se corrompe até perder sua natureza original.

De fato, sem Deus, criamos uma Igreja à nossa imagem, para nossas pequenas necessidades, nossos desejos ou nossos desgostos. O modismo se apodera da Igreja, e a ilusão do sagrado torna-se perecível, uma forma de medicação vencida."

Cardeal Robert Sarah, em  Deus ou Nada: entrevista sobre a Fé.