Cuidado com a maneira de olhar
01/06/2008
Diácono Juranir Rossatti Machado
A nossa maneira de olhar merece cuidados especiais. Refiro-me, aqui, ao ato de fitar os olhos ou a vista em alguém, primeiro significado dado ao verbo olhar, em nossos dicionários. É dentro deste sentido que penso em trocar rápidas idéias sobre a importância dos olhos no processo da comunicação interpessoal. Motiva-me o jeito de Jesus lançar seus olhos sobre as multidões e pessoas. Desejo finalizar a nossa breve conversa, aludindo-me, sucintamente, ao modo divino e humano de Jesus nos olhar. Em Cristo, temos os olhos de Deus e os olhos do homem, segundo o coração de Deus.
O nosso olhar reflete nossos sentimentos. É o que podemos depreender da mensagem de Jesus Cristo, em determinado momento do Sermão da Montanha, na redação de Mateus. Do alto do monte, o Filho de Deus e Filho do Homem, olhando a multidão, dirige-lhe esta advertência: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas” (Mt 6, 22-23a). O homem tem capacidade de disfarçar em luz as trevas do próprio coração: “Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas” (Mt 6, 23b). Em outros termos, podemos manter, em nossos olhos, um brilho capaz de levar o observador a crer que seja verdade a mentira que passa pelos nossos lábios com o colorido da veracidade. Para um estudioso da linguagem corporal, atento aos sinais dos olhos e a tantos outros sinais emitidos pelo corpo, a farsa pode ser desvendada em pouco tempo. Nós não nos comunicamos apenas por meio da verbalização das palavras, mas também através de nosso corpo. Todo o nosso corpo fala, afirmam os especialistas da Teoria da Informação.
No âmbito das celebrações litúrgicas, em vários momentos, através da simbologia gestual, gestos e movimentos do corpo, incluindo os olhos, comunicam os mais diversos sentimentos. No campo específico da conversação ou da comunicação interpessoal, é muito comum a transmissão de pensamentos fazendo uso de gestos. Fiquemos atentos para o fato de que não é coisa rara a dicotomia ou separação entre gestos ou outros movimentos do corpo e os pensamentos verbalizados. Há verbalização de sentimentos que o próprio corpo denuncia como mentira ou confirma como verdadeiro. Dentro do contexto desta troca de idéias e levando em consideração a nossa fé cristã, é muito oportuno o conselho de Jesus Cristo: “Dizei somente “sim”, se é sim; “não”, se é não. Tudo o que passa além disto, vem do Maligno” (Mt 5, 37). O nosso corpo registra tanto o “sim” quanto o “não”. Registra, igualmente, “o que passa além disto”. Registra e comunica-o.
Não é somente a Bíblia que trata da importância do olhar e da associação de sentimentos com os sinais dos olhos. O assunto se encontra no campo das ciências que estudam os comportamentos da pessoa humana, como a Psicologia, a Psiquiatria e a Neurolingüística. Em “Desvendando os segredos da linguagem corporal”, Allan e Bárbara Pease nos apresentam interessante capítulo sobre os sinais dos olhos. Em “O corpo fala – a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal”, Pierre Weil e Roland Tompakow nos afirmam: “A região ocular é de imensa importância expressiva; revela, como todos sabem, a atitude da mente.” A seguir, falam-nos do olhar que revela concentração, reflexão, seriedade, surpresa, espanto, alegria, entusiasmo, desânimo, tristeza etc.. A maneira de olharmos as pessoas, objeto de especiais cuidados, demonstra o nosso mundo interior. Denuncia, em nós, a presença da mentira ou a verdade de nossos sentimentos e emoções.
Fixemo-nos naqueles encontros de Jesus com as multidões e pessoas e, observando-o, aprendamos a olhar o mundo, as suas realidades, a nós mesmos e as pessoas! Ele é verdadeiramente Deus; portanto, com ele, aprendemos a olhar com os critérios de Deus. Ele é verdadeiramente homem; logo, com ele, aprendemos a olhar como homem, segundo o coração de Deus. Na maneira de olhar de Cristo, encontramos a mansidão, a humildade, o acolhimento, a compaixão, o respeito às expressões culturais e religiosas, o incentivo ao diálogo, o fulgor da obediência a Deus, o desejo de levar-nos à comunhão com o Pai... Há uma indissociável sintonia entre seus olhos e suas palavras e seus gestos. Sendo Caminho, Verdade e Vida (Jo 14, 6), seus olhos são Caminho, estão repletos de Verdade e contêm a Vida plena. Na imitação de seu olhar, cuidemos da maneira como lançamos nossos olhos sobre o povo e as pessoas!
Diác. Juranir é presidente da CRD Leste I e membro da ENAP-Equipe Nacional de Assessoria Pedagógica da CND.
Data do artigo: junho de 2008