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DIACONADO: UMA VOCAÇÃO PARADOXAL

12/07/2022

DIACONADO: UMA VOCAÇÃO PARADOXAL

Diácono  Apolinário Cunha

Hoje acordei com o texto do Lava-pés (Jo 13) impregnado no meu coração, mas também uma série de questionamentos envolto. Por que o Mestre quis e fez assim? Qual pessoa, horas antes de morrer,faria um banquete e sem expressar assuntos inconvenientes ou desnecessários aliás,  penso que conversaram o máximo de assuntos agradáveis, além do mais,  ele era o "garçom" da própria festa. Certamente, isso não é facilmente compreensível!

Esses gestos paradoxais de Jesus Cristo,  deixaram atônitos os próprios discípulos naquela ocasião,  de Pedro ao próprio Judas Escariotes. Quem é esse Mestre que serve, ao invés de ser servido? Que tipo de Rabino e Sacerdote é esse que não se constrange em tomar sua toalha e livremente amarrar-la na cintura, sua jarra de água e espontaneamente servir com tanta naturalidade e eloquência, embora corroendo o sério risco de  ser reconhecido por esse gesto tão elementar para quem queria  instaurar um REINO? 

Tudo isso, com certeza, era muito estranho para a cabeça dos discípulos,cujo exemplo até então de sacerdotes, mestres, reis e rabinos era de total privilégios e agora, vêem eles mesmos alguém descaracterizando esse modelo de liderança religiosa e tornando-se, não como uma mera ideia,  mas ali, bem diante de todos, servo que não se importa  em servir alegre  e indistintamente. 

A humilhação de Cristo na cruz, como nota São Paulo aos Filipenses,  é precedida pela humilhação do serviço análogo ao de escravo no gesto do Lava-pés. Mas que escravo é esse que é ao mesmo tempo tão livre, tão disponível em "primeirar", como nos ensina o Papa Francisco, tão corajoso em rebaixar-se? Aos olhos da maioria,  tão vulnerável, tão estranhamente serviçal. Depois da Última Ceia e do Lava-pés,  segue o Diácono- Sacerdote rumo à Jerusalém para nos ensinar não um caminho fácil,  mas apenas o Caminho traçado por Ele mesmo livremente: de Cruz, Obediência, Morte e Ressurreição. Assim também é para todos nós, que caminhamos para à Jerusalém Celeste. Somente agora, entendi a expressão:" persona Chisti. Por isso,  toda vez que vejo um Sacerdote(ou bispo) da Igreja, vejo neles duas estolas sobrepostas uma à outra, exatamente como as duas de Cristo - o Sacerdote que também é diácono permanente, como todos somos chamados a ser. Ser diácono é mais que ter uma estola transversalmente sobre os ombros; é ter o Cristo como o modelo  do serviço.