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Diáconos e presbíteros: servidores numa mesma missão!

15/07/2020

Diáconos e presbíteros: servidores numa mesma missão!

* Padre José Cândido Cocaveli de Andrade

Queridos Diáconos e Estimadas esposas, nesta breve página desejo partilhar com vocês da imensa alegria que tenho, nestes 11 anos de exercício do ministério presbiteral, de vivenciar e partilhar da vida e da missão com os diáconos permanentes, e do quanto sou enriquecido e fortalecido por esta estreita convivência. Por isto, sinto-me particularmente feliz.

Há 10 anos, na Prelazia de Tefé (AM), numa Eucaristia Dominical, presidida por Dom Sergio Castriani, eram ordenados quatro diáconos permanentes. Esta ordenação foi fruto da opção de uma Igreja Particular. Com satisfação, apresentávamos à Igreja quatro irmãos dispostos à doação de si, como servidores das comunidades do Reino de Deus, homens casados, distintos e benquistos pelo povo de suas comunidades: Francisco, João, Milton e Nixon.

Foi com o Diácono Milton e sua esposa Nilce que tive uma estreita relação na missão, numa distante paróquia da Prelazia de Tefé, nas cabeceiras do rio Japurá, na fronteira com a Colômbia. Mas foi numa dessas vilas ribeirinhas da Amazônia, Acanauí, que Milton e Nilce encontravam-se com as famílias, partilhavam da vida do trabalho na agricultura e se afinavam com o povo simples daquela localidade. Mais tarde, quando podíamos nos encontrar, juntamente com a pequena comunidade das Irmãs Felicianas, onde Irmã Isabel Ficagna era a responsável pela pastoral ribeirinha, partilhávamos da experiência missionária, dos desafios e dos avanços na obra da evangelização.

Com a minha vinda para o Instituto de Teologia - ITEPES, na capital e sede Metropolitana de Manaus a serviço do Regional Norte 1 da CNBB, na direção administrativa do Instituto de Teologia, mais uma vez via-me chamado a trabalhar em comunhão com este ministério, em sintonia com o Centro de Treinamento Maromba, sob a administração do Diácono Francisco Salvador Pontes Filho, atual Presidente do CND. Neste Instituto temos uma vocação muito bonita: a de servir as Igrejas Particulares do Regional Norte 1 da CNBB, bem como temos o privilégio de poder acolher para a formação teológica os candidatos ao diaconato permanente da Arquidiocese de Manaus. Nas conversas nos intervalos podemos tocar mais de perto a realidade da vida de cada um e ouvir suas experiências nas diversas realidades, seja na cidade e nas distantes periferias, sejam elas rurais, localizadas nas estradas e ramais ou mesmo ribeirinhas.

Desde fevereiro de 2018 sirvo a Área Missionária Nossa Senhora Aparecida, no interior ribeirinho da Arquidiocese de Manaus, no Distrito do Cacau-Pirêra, Município de Iranbuda (AM). Trata-se de uma extensa área com 62 comunidades, entre o Rio Negro e o Rio Solimões, lagos e igarapés, estradas e ramais da AM-070.  Formamos uma equipe missionária que além de mim, conta com o Padre Jozinaldo Souza, CSsR, e três diáconos permanentes: Ricardo Cesar, com cinco anos de ordenação, e sua esposa Maria das Dores, Ronaldo Santos, com 9 anos de ordenação, e sua esposa Maria José e José Amaral, viúvo,  de quem tivemos a alegria de preparar a sua ordenação em nossa área missionária, há um ano.

Na Amazônia as distâncias e os desafios são exigentes. Impensável viver o ministério sozinho e isolado. Identidade com a Igreja a que serve e espírito de comunhão com o presbitério e clero local são imprescindíveis no modelo de Igreja conciliar e sinodal.  Por isso que nos esforçamos, padres e diáconos, para que nossa vida e ministério sejam cultivados num intercambio de oração e fraternidade, o que dá sustento à missão comum a nós confiada pelo Arcebispo Dom Leonardo Steiner, nesta porção do povo de Deus.

Neste ambiente nasce uma amizade e um encontro respeitoso, porque compreendemo-nos todos configurados Àquele que se fez servo de todos, Cristo Jesus! A união em Cristo deve fazer florescer entre nós um único e mesmo sentimento: somos todos servidores, cuja meta última é o exercício da caridade, que propicia que os pobres e mais necessitados sejam conduzidos ao altar do Senhor, ao banquete da vida plena. Sempre quando a vida é estreita e partilhada há também as tensões e as dificuldades. Aprendemos a superar os desafios com espírito de fraterna partilha e correção mútua. Cultivamos o hábito de nos reunir como equipe ao menos uma vez ao mês para afinar as agendas de visitas e reuniões com as comunidades, traçar as prioridades, avaliar nosso agir à luz do plano de evangelização.

Nossas decisões são sempre tomadas em colegialidade, padres e diáconos, e com a participação dos leigos, membros de nossa equipe, Rosa Fonseca e Miguel Klauck. Com isso afastamos o perigo dos protagonismos pessoais e isolados, além de não considerarmos os ministérios ordenados superiores aos serviços dos demais sujeitos eclesiais, leigos e leigas. Estas convicções fazem com que permaneçamos em sintonia e fidelidade ao legado dos padres conciliares do Concílio Vaticano II.

Em meio a tantas necessidades e angústias, muito nos enche de esperança sonhar os sonhos do Papa Francisco, partilhados na Exortação ”Querida Amazônia”, e poder, de algum modo, na força da comunhão dos ministérios que nos unem e nos tornam um único corpo de ministros servidores, ser sinais de uma Igreja samaritana e encarnada, e fazer ecoar com alegria a Boa Notícia de Jesus de Nazaré. Quando temos a coragem de sonhar juntos os mesmos sonhos, não há lugar para as divisões e os ciúmes que nos dividem como pastores do rebanho de Cristo. Viver a missão na Amazônia é enfrentar muitos desafios, mas é também poder quase que tocar o sagrado que se manifesta na obra da criação tão exuberante em nossa região.

“Tudo isso nos une”! Deste modo conclui o Papa Francisco a sua Exortação Pós-Sinodal para a Amazônia. Assim também eu desejo concluir este testemunho. A Igreja nos une, a cooperação missionária nos une, a comunhão dos ministérios nos une. Diáconos e Presbíteros, leigas e leigos, todos trabalhadores na vinha do Senhor. Dom Sergio Castriani, 3º Bispo Prelado de Tefé e Arcebispo Emérito de Manaus é nosso grande incentivador, porque ele por primeiro nos ensinava a olhar a Igreja para além de nossas circunscritas opiniões “porque somos servidores numa mesma missão”, e a viver em comunhão com todos os ministérios, ordenados e leigos, para que o nosso testemunho de amor e de unidade sejam visíveis para que “o mundo creia” e os frutos da obra missionária sejam abundantes.

* Presbítero da Prelazia de Tefé

Diretor Administrativo do Instituto de Teologia – ITEPES

Administrador da Área Missionária Nossa Senhora Aparecida – Cacau-Pirêra