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DILEXI TE: SOBRE O AMOR E A CARIDADE

10/11/2025

DILEXI TE: SOBRE O AMOR E A CARIDADE

Diácono José Oliveira Cavalcante (Cory)

Meus queridos irmãos diáconos do Brasil Paz e Bem!

No dia em que a Igreja recorda São Francisco de Assis, 4 de outubro de 2025, o Papa Leão XIV assinou seu primeiro documento magisterial, a exortação apostólica Dilexi Te, sobre o amor e a caridade para com os pobres e a necessidade de um compromisso ativo com a justiça social, à luz do Evangelho e da vida cristã, buscando aplicar seus principais ensinamentos. A exortação abre com a citação de Apocalipse 3,9, onde Deus diz: “Eu te amei” ao pequeno povo que quase nada tinha.  Isso já estabelece o tom: o amor de Deus pelos pobres não é apenas um detalhe entre muitos, mas o núcleo da sua ação salvífica, e o ponto de partida para a vida cristã.

"Embora não faltem diversas teorias que tentam justificar o estado atual das coisas ou explicar que a racionalidade econômica nos exige esperar que as forças invisíveis do mercado resolvam tudo, a dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada já agora, não só amanhã, e a situação de miséria de tantas pessoas, a quem é negada esta dignidade, deve ser um apelo constante à nossa consciência" (Dilexi te, 92).

O Papa Leão XIV observa que há diante disso três atitudes fundamentais: a) o compromisso em favor dos pobres, b) o compromisso pela erradicação das causas sociais e estruturais da pobreza, e por fim c) o compromisso por uma mudança de mentalidade. O amor aos pobres não deve ser apenas um sentimento, mas uma ação concreta. O Papa chama os cristãos a se envolverem na vida dos necessitados, promovendo não só a assistência material, mas também a inclusão social e a promoção da dignidade humana. A caridade é vista como uma expressão da verdadeira fé, que se manifesta através do cuidado e do apoio aos mais vulneráveis. Quando pensamos no pobre, pensemos primeiro que Deus o viu, o ama, o escolheu — não como um “problema para resolver”, mas como alguém amado por Deus. Esse olhar muda tudo: o pobre deixa de ser só “objeto de assistência” para tornar-se irmão/irmã, sujeito da história, em quem Cristo se faz presente.

A exortação lembra que a pobreza tem muitos rostos: pobreza material, pobreza de exclusão, pobreza cultural, pobreza espiritual etc. Também afirma que Deus, no Antigo Testamento, “viu a opressão, ouviu o clamor” (Ex 3,7-8) — e esse clamor dos pobres interpela a Igreja, a sociedade, a cada cristão. Isso nos convida a olhar além dos “pobres visíveis” e perceber as “presas da pobreza” invisível: quem não tem voz, quem é marginalizado, quem está fragilizado em direitos, em dignidade, em esperança. A exortação adverte que “o pobre clamará ao Senhor contra nós” se nós ignorarmos esse clamor. A exortação reforça que Deus tem uma “opção preferencial” pelos pobres — não para excluir outros, mas para colocar no centro os que são excluídos.  

Jesus é apresentado como “Messias dos pobres”, ele que foi pobre, excluído, marginalizado.   Se Deus “preferiu” os pobres, nós também somos convidados a fazê-lo. Isso significa converter o olhar, o estilo de vida, as prioridades, os recursos. Implica que na comunidade eclesial devemos estar atentos às estruturas: ouvir os pobres, dar-lhes voz, incluir-lhes nos processos de decisão, transformar as instituições da Igreja para que sejam “com os pobres e para os pobres”. Nosso país tem grandes desigualdades sociais, pobreza extrema, exclusão histórica. A exortação nos impele a não nos acomodarmos.

A “preferência pelos pobres” implica compromisso diante das causas estruturais: desemprego, falta de acesso à saúde, educação, dignidade habitacional. Na pastoral, nas paróquias, nas comunidades de base, a exortação pode renovar o compromisso social: não apenas distribuir recursos, mas empoderar as pessoas — formar, escutar, colaborar para que se tornem protagonistas. Para os cristãos leigos: vida familiar, profissional, cidadã — tudo pode e deve ser campo de serviço aos pobres. A fé não se reduz aos ritos, mas se concretiza no amor vivido. Não basta atender a necessidade; é necessário que no gesto, na proximidade, no olhar, chegue ao outro a certeza de que é amado por Deus e por nós.

Meu abraço a todos
Diacono Cory