ESPOSAS DE DIÁCONOS
19/08/2025
Nenzinha – Uberlândia (MG)
Em nosso encontro em Coronel Fabriciano (MG), em junho de 1995, um padre pediu-me para dizer como eu me sentia como esposa de Diácono. Como nada estava preparado resolvi abrir meu coração. Não me recordo das palavras, mas sei que falei da minha felicidade e da grande honra que Deus me concedeu. Pude notar, no decorrer de minha vida, que inúmeras pessoas têm essa curiosidade: como é ser esposa de alguém que recebeu os sacramentos da Ordem e do Matrimônio e vive essa dupla sacramentalidade. Tenho certeza, que não vou trazer-lhes nenhuma novidade, apenas algumas experiências de vida.
Por ocasião da ordenação de nossos maridos nós demos nosso “SIM” para que nosso ele pudesse ser ordenado. Esse “sim” é como o “sim” de Maria. É um “SIM” sacramental, não podemos voltar atrás. Esta palavra tão pequena nos trouxe responsabilidades e deve ser assumida em todos os momentos: alegres ou tristes. Ela representa nossa doação ao Criador. Sem dúvida alguma é nossa resposta de amor. É a exigência de uma vida realmente santa onde devemos dar um testemunho de seguimento do Cristo no seio da Igreja.
Todo Sacramento exige compromisso. Nós assumimos o compromisso no Matrimônio e o nosso “sim” na ordenação de nosso marido é um comprometimento que assumimos perante Deus de procurar viver uma vida digna de esposa de um Ministro do Altar, com todas suas conseqüências. Nosso primeiro exemplo deve ser na vida matrimonial. É preciso que haja fé, esperança, caridade, espiritualidade, oração, renúncia, diálogo, generosidade, delicadeza, humildade, fidelidade, sinceridade, paciência, resignação, respeito mútuo, perdão, autenticidade, amizade, educação, carinho. Tudo isto poderíamos resumir em uma única palavra: AMOR! Não importam nossa idade ou o tempo de casados. Devemos abolir o egoísmo de nossas vidas e viver lutando para alcançar a felicidade de nosso cônjuge. Sem dúvida, é na busca de sua felicidade que encontraremos a nossa, de vez que não nos casamos para sermos felizes, mas para construir a felicidade de nossos maridos e de nossos filhos.
Na condição de batizadas e membros do Corpo Místico de Cristo temos nossa missão eclesial própria. Nós também recebemos pelo Batismo a missão de oferecemos nossas vidas no altar do coração, de colocarmo-nos à disposição dos irmãos e de pregarmos a palavra, sobretudo com o exemplo. Como esposas de diáconos devemos viver a humildade. Não somos diaconisas, mas vivemos nossa diaconia no servir e no doar. Vejamos o importante texto do Evangelho: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos.” (Mc.9,35) Não podemos e não devemos procurar aparecer. Não compete a nós estarmos sempre em evidência porque nosso marido está à frente da celebração. É claro que se sou ministra extraordinária da Comunhão Eucarística estarei ao lado dele na celebração da Eucaristia; se participo da Pastoral do Batismo, estarei a ajudá-lo nos batizados. Mas exigir um lugar de destaque somente por ser esposa do diácono, principalmente em casamentos, é provocar animosidade na comunidade eclesial e nada tem da humildade evangélica.
Não compete também a nós, esposas de diáconos, dar palpites na administração da Paróquia, dar ordens aos funcionários paroquiais e muito menos querer ensinar o Padre como agir. Diaconia é serviço, de maneira alguma pode ser considerada “status”. Diácono é nosso esposo, nós somos outras “Marias” que o acompanham e o ajudam em sua nobre missão. Quando demos nosso “sim” abrimos mão para que nosso marido possa se colocar de maneira efetiva na construção do Reino. Não podemos, agora, criar entraves ao seu Ministério. Também não devemos nos esquivar ou ficarmos complexadas porque ele é muito elogiado ou solicitado para celebrações, palestras em encontros, movimentos ou pastorais. Deveria ser motivo de orgulho.
Antes de sermos esposas de diáconos somos IGREJAS. Recebemos os dons e frutos do Espírito Santo e devemos colocá-los em prática. Somos outra “Maria” no seio da Igreja. Maria abriu mão de seu Filho para que fossemos redimidas, nós entregamos nosso marido para que Deus seja glorificado pela nossa doação. Devemos ter coragem para assumir nosso papel, independentemente de nosso grau de instrução. O que importa realmente é o que temos dentro de nosso coração. Eu tenho muita dificuldade, mas procuro superá-la pela leitura. Gosto de ler e leio muito, inclusive as encíclicas emanadas do Vaticano. Não tenho muita condição de trabalhar na comunidade como gostaria, por deficiência física, mas trabalho muito em casa. Atendo pessoas pelo telefone mantendo discrição absoluta, gravo programas instrutivos, luto para manter a espiritualidade na família, procuro incentivar amigas e parentes à prática dos Sacramentos e à participação na Santa Missa. Esforço-me em fazer com que todos vivam em concórdia. Elimino de pronto fofocas ou comentários maldosos.
Como esposa procuro agradar meu marido. Estou sempre arrumada, com simplicidade, não tenho roupas ou sapatos de grife, mas quero que ele me veja sempre alegre e bonita e tenha em mim uma companheira que o incentiva e o auxilia (Igreja enfeitada). Eu só posso estar feliz se meu marido estiver feliz no cumprimento da missão que Deus lhe confiou através da vocação e se em nossa casa ele encontra paz. Anoto sempre os recados, observo sua agenda para que ele não falte a nenhum compromisso, mas também tenho o cuidado de lembrá-lo que não pode aceitar tudo que aparece. Há necessidade de se recusar alguns compromissos para que a família também possa usufruir de sua presença. Ele é diácono, mas também é pai e esposo. Tenho convicção que todo cristão deve viver em intensidade a oração, estudar de modo a conhecer em profundidade a “Palavra” e trabalhar como se dependesse apenas dele a construção do Reino de Deus.
A oração é o sustentáculo de nossa vida espiritual. Através da oração Deus entra em cheio na nossa vida e nós somos mergulhadas na Trindade. Nós somos seres limitados. Para seguir as pegadas de Cristo necessitamos do auxílio do Pai. Ele sabe das nossas necessidades, mas quer ser chamado, invocado, assim como nós pais gostaríamos de ouvir nossos filhos nos falarem de suas necessidades. A oração é um meio pedagógico que Deus estabelece para que ele, Pai, tenha o prazer de conversar com os filhos, de ouvi-los, vê-los bem perto a dizer-Lhe que o amam. A oração é um ‘conversar’ com Deus. É nossa maneira de pensar em Deus com toda nossa fé, com toda nossa vida, fazendo dele um referencial em tudo: na alegria, na tristeza, nas vitórias, nas derrotas, no gozo e nos sofrimentos. Desta maneira o dia a dia passa a ser vivido em clima de oração.
Desde criança em rezava o Terço. Fui Filha de Maria quando mocinha. Sempre tive vocação para o casamento e em minha fé simples pedia a Jesus, Maria, José e a Santo Antônio que me dessem um esposo religioso e honesto. Deus ouviu as minhas preces. Meu marido foi meu primeiro namorado. No namoro nós dois participávamos ativamente das coisas da Igreja, jamais faltávamos à Missa e frequentávamos o Sacramento da Eucaristia. Prometi à Virgem Maria que rezaria o Terço todos os dias e mantenho firme até hoje o cumprimento da promessa. Depois de casados continuamos essa vida de oração. Vejam, na noite de núpcias fomos dormir em nossa casa, no dia seguinte nós nos levantamos às cinco e meia da manhã para poder participar da Santa Missa antes de viajarmos em lua de mel. Em 1965 fomos convidados para fundar em Uberlândia o Movimento Familiar Cristão; em 1970 participamos do Cursilho de Cristandade, movimento no qual trabalhamos até hoje. Participamos de vários encontros de casais, como o ECC, e fundamos em várias cidades o curso para noivos.
Nossa vida tem que ser assim, uma perpétua oração. Um pedido agora, um agradecimento depois, um arrependimento, um louvor, um sorriso, um gemido, um grito de angústia, mas sempre um ato de fé como a demonstrar minha crença em sua misericórdia. Deve ser um ato de esperança que se converte na certeza de que não estou sozinha. Um ato de confiança na certeza de que Ele conhece minhas limitações e jamais irá me desamparar. Sem a oração somos seres incompletos porque não conseguiremos viver a vida em graça, fazendo de nossa alma um tempo da Trindade. A oração sem dúvida representa nossa força pois conseguimos mover o coração do próprio Deus. A oração é uma poderosa alavanca que se torna força indispensável para que possamos levar adiante o plano de nosso Criador.
A oração jamais desaparecerá da face da terra porque ainda que a liberdade do homem conduza o mundo a um apocalipse de cinzas a oração servirá para abastecer os corações de esperança. Pretender que a oração seja inútil é o mesmo que afirmar que se pode chegar a algum lugar sem dar o primeiro passo. Creiam, o homem fica maior quando se ajoelha porque reconhece na humildade do gesto que tudo depende do Pai. O próprio Cristo nos deu o exemplo de oração constante e Santo Afonso Maria de Ligório nos diz: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”. Por tudo isto chegamos à conclusão: nós, esposas de diáconos, devemos ser antes de tudo pessoas de oração.
Orar também escutar a Deus. É uma estrada de mão dupla. Ele me fala no silêncio quando eu me abro para escutar. Ele me fala pelos sinais dos tempos; ele me fala nos momentos tristes e alegres; ele me fala pelo vento, pela chuva, pela colheita farta; pela refeição posta à mesa; pelo abraço e pelo beijo do netinho; pela demonstração de apreço por parte dos amigos; pelos carinhos do marido. Mahatma Ghandi, que era pagão, nos dizia: “Para viver no meio dos homens é necessária a força da oração. O corpo pode viver temporariamente sem alimento, mas a alma sem a oração morre. O jejum da oração não existe.” Devemos orar para que Deus nos ajude a corrigir nossos defeitos e a superar nossos complexos, de superioridade ou de inferioridade (cara de milagre).
Devemos orar para que Deus nos ajude a ser boas esposas e boas mães. Devemos orar pedindo forças para vencer as adversidades: doenças, desemprego do marido ou de filhos, dificuldades financeiras, problemas de drogas, homossexualismo, gravidez precoce, inimizades na família. Devemos orar pedindo a Deus a generosidade para repartir o pão; para que ele nos dê o dom do perdão; para que converta os nossos corações; para que nos dê a graça da fidelidade completa; para que eu consiga aceitar o outro como ele é; para que minha fé seja ardente e contagiante; para que sejamos para os outros portadoras da paz, o mais doce dom de Deus; para que eu faça de meu trabalho uma oração.
Nossa oração será mais eficiente quanto mais conhecemos a Deus e o único mediador que temos entre nós e o nosso Criador – Jesus Cristo. Só há um meio de conhecê-los em profundidade: através do estudo da Bíblia. Eu gosto muito de ler. Tenho junto à mesa ao meu lado um bíblia que é sempre estudada e consultada. Procuro assistir às missas na TV, apesar de saber que não têm o mesmo valor, mas a reflexão do Evangelho faz-me crescer. Programas da Rede Vida e Canção Nova têm sido de utilidade ímpar, pois auxiliam-me em meu trabalho de evangelização. Revistas com “Ir ao Povo”, “Brasil Cristão” e “Família Cristã”, encíclicas e livros como “Análise da inteligência de Cristo” aumentam meus conhecimentos e ajudam-me, inclusive, na preparação de mensagens. Mas sem dúvida a Bíblia é fonte de onde jorram mananciais de água pura. Santo Agostinho nos diz: “é uma iniquidade não conhecer aquilo que para nós foi escrito pelas mãos do próprio Deus.” Como esposas de diáconos é mais que uma necessidade, é uma obrigação imposta por nossa condição de esposas de ministro ordenado o conhecimento profundo da Bíblia. É para nós uma exigência imperiosa. Não podemos aceitar que uma pessoa com Bíblia debaixo do braço seja logo rotulada de “evangélica”. Nosso exemplo deve ser contagiante de modo a incentivar as outras a conhecerem a Palavra.
Eu tenho muita dificuldade em reter o que li. Até mesmo nome de pessoas tenho dificuldades em guardar, mas isto não me impede e não é impecilho para que eu não me esforce cada vez mais para conhecer aquele que me criou. “Não se ama aquilo que não se conhece e não se esquece daquilo que ama”. Isto é uma realidade palpável. Procuremos, então, fazer da Bíblia não um livro que se esquece na cabeceira da cama, mas uma fonte de oração, de meditação, de glorificação, de louvor, de agradecimento.
No juízo final Cristo levará em conta se na realidade vivemos o amor: “eu estive preso e foste foi me visitar, estava nu e me vestiste, estava com fome e me alimentaste, estava com sede e me deste de beber, estava doente e cuidaste de mim”. Isto nos mostra que nosso trabalho na construção de um mundo humano e fraterno será o referencial de nosso julgamento. São Paulo na II Cor. 5,10 nos diz: “Após nossa morte deveremos comparecer diante do tribunal de Cristo, onde receberemos o prêmio pelo bem que praticamos e o castigo pelo mal que fizemos”. Se o Cristo espera que nos coloquemos a serviço do próximo, ele exige que nos coloquemos, de modo efetivo e afetivo, ao lado de nosso próximo mais próximo. Portanto, a caridade deve ser vivida com mais intensidade dentro de nossa própria casa.
De nada adianta eu ficar a sorrir para os outros se meu marido e meus filhos não encontram em mim um abrigo seguro. Nós somos os esteios do lar, sem a menor dúvida. Se o marido se afasta do lar por algum motivo, nós temos condições de levar a contento o barco à tona. Nós como esposas e mães conseguimos manter a unidade. Se a esposa se afasta, a casa se desmorona. Nossos maridos não têm estrutura para manter sozinhos a engrenagem funcionando. Nossa responsabilidade então é imensa. Sozinhas nada conseguiremos fazer. Contamos com o auxílio divino através das orações. Alimentamos nossa coragem para enfrentar a luta pelos conhecimentos auferidos. Adquirimos forças quando colocando-nos como servas no meio dos irmãos mostramos que estamos procurando cumprir com acerto a missão que Deus nos deu. Nossa santificação e a santificação de nossas famílias devem ser nossa meta, lembrando-nos que ser esposa de diácono é muito mais que uma honraria, é responsabilidade compartilhada para que a comunidade eclesial a que pertencemos possa também se santificar pelo nosso servir.
Oxalá pudéssemos viver ou pelo menos procurar viver as “Bem Aventuranças”, tendo um coração de pobre, promovendo a paz, vivendo a castidade, exercendo a misericórdia, chorando os nossos pecados, exercendo em plenitude a justiça. São Francisco nos dá o exemplo perfeito: devemos ser portadoras da paz; levar o amor a extinguir o ódio; promover a união onde há discórdia; levar a verdade onde impera o erro; viver a fé onde haja dúvidas; levar esperança onde há desespero; ser luz onde houver trevas; converter a tristeza em alegria.
A “ORAÇÃO DA AMANHECER” nos trás a síntese de como deveria ser a vida da esposa do diácono. O “outro” deve ser a nossa meta, nós somos apenas instrumentos.
ORAÇÃO DO AMANHECER
Senhor! No silêncio deste dia que amanhece, venho te pedir a paz, a alegria de viver, o entusiasmo, a fé, a esperança e a caridade. Quero hoje olhar o mundo com os olhos cheios de amor, ser paciente, manso, prudente, alegre, ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vê, e assim ver somente o bem em cada um.
Senhor! Cerrai os meus ouvidos a toda calúnia, guarde a minha língua de toda maldade, que só de bênçãos se encha o meu espírito que eu seja tão bondoso e alegre que todos quantos se achegarem a mim sintam a Tua presença. Revesti-me de Tua beleza, de Tua Graça, de Tua paz, de Tua misericórdia, de Teu perdão, Senhor! E no decorrer deste dia, que eu Te revele a todos.
ORAÇÃO DA COZINHEIRA
Senhor, dono das panelas e das marmitas. Já que não posso ser a santa que medita aos teus pés e nem bordar toalhas para seu altar, que eu seja a santa aos pés do meu fogão. Que teu amor aqueça a chama que acendi. Tenho as mãos de Marta, mas quero ter a alma de Maria. Quando eu lavar o chão, lava meus pecados, Senhor. Quando eu colocar a comida na mesa, come conosco, porque é ao meu Senhor que sirvo, servindo a minha família.