FÉ, POLÍTICA E CARIDADE
10/09/2022
* Diácono Apolinário Cunha
O Concílio Vaticano II trouxe à tona e abordou com muita ênfase a seguinte expressão pontifícia: " A Política é a mais perfeita forma de caridade". Embora tenha sido evidenciada pelo Papa Paulo VI, originalmente esse pensamento é de Pio XI. Portanto, da Igreja.
Parece que caridade foi um dos temas bem refletidos naquela ocasião, de profunda oxigenação na Igreja, já que acontecia simultaneamente a restauração do diaconado para homens casados, como no início da cristandade.
Mas voltemos ao tema central desta reflexão: a política em sintonia com a caridade. Muitos não gostam, outros odeiam e alguns fazem a farra nesse espaço, por causa da indiferença, omissão ou distanciamento, principalmente dos católicos (batizados). Parece terem esquecido de que os propagadores por excelência da autêntica caridade são os cristãos, missão esta adquirida na ocasião do batismo.
Então, como deve votar um católico? Talvez alguém pergunte.
A resposta mais coerente é: católico vota como católico. Simples assim. Observando os princípios e doutrina da Igreja de Cristo, para não ser contraditório no credo. Entretanto, deve-se admitir, a respeito da Doutrina Social da Igreja (DSI), ela não é tão conhecida, refletida e observada pelos batizados de forma geral, sendo em muitas situações, infelizmente, as ideologias anticlericais e partidárias mais conhecidas e referidas nos espaços católicos, sobrepondo-se em muitos casos, à voz da Igreja. Com certa frequência, até mesmo por parte do clero que, em muitas ocasiões, são mais forjados pelas ideologias múltiplas presentes, do que pelos próprios ensinamentos da Santa Mãe Igreja.
Creio ainda não ter ficado claro como vota um batizado. Então devo ser mais direto em quem ou qual partido um batizado não deve votar, se não quiser ferir sua fé:
- Em quem se aproveita da miséria ou pobreza do povo para tentar se eleger;
- Quem propaga o ódio e a violência;
- Quem é a favor do aborto;
- Quem é a favor da legalização das drogas;
- Quem é contra a família;
- Quem é a favor da ideologia de gênero e outras;
- Quem é contra os valores cristãos;
- Quem é envolvido em esquemas de corrupção.
De fato, não é fácil encontrar um perfil adequado para se votar. São escassos os bons que gostam de política, abrindo sempre espaço para os mal-intencionados que adoram os privilégios que ela (política), sob os fardos pesados carregados pelo povo, podem dar. Bom seria se cada vez mais os cristãos fossem alternativas de voto em cada eleição. No entanto, diante da situação atual, faz-se oportuno lançar um olhar mais amplo em outras direções. Mas, lembremo-nos de que a política se faz principalmente com votos.
O Papa Francisco refletiu recentemente a frase, dada como importante por dois de seus predecessores, como mencionado acima: "A Política é a perfeita forma de caridade porque está a serviço do bem comum, o objetivo primeiro da política, segundo a Doutrina Social da Igreja".
O agir político é a missão de fazer o bem comum se plenificar, permitindo que todos tenham uma vida boa, digna e feliz. Nesse caso, a política é instrumento e não fim. Ela não se basta a si mesma, mas está a serviço de algo maior, o bem comum das pessoas. Neste sentido, vale dizer que a DSI é um tesouro escondido e desconhecido pelos católicos, pois, se fosse verdadeiramente conhecido, faria muita diferença no mundo.
Assim, urge um maior empenho por parte dos batizados, em relação ao conhecimento da dimensão social de sua fé, focados nos poderes constituídos, para lá fazer verdadeiramente a diferença. Não basta ser contra o aborto ou de tudo já dito acima, se se vota em quem é a favor. O cristão faz do seu próprio voto um instrumento de paz e justiça e não uma arma contra a sua própria fé. Fé, caridade e política podem, sim, perfeitamente, empreender frutuosos diálogos rumo ao bem comum.
* Diocese de Parnaíba (PI)