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ORDENAÇÃO IMPRIME CARÁTER, MAS NÃO MUDA O CARÁTER, OU, A ESTOLA NÃO FAZ O DIÁCONO.

11/03/2023

ORDENAÇÃO IMPRIME CARÁTER, MAS NÃO MUDA O CARÁTER,  OU, A ESTOLA NÃO FAZ O DIÁCONO.

* Diácono Mario Angelo Braggio

Até outro dia, você era um marido, um pai, um trabalhador... Agora, ordenado, você continua sendo tudo isso e se tornou, também, um diácono. Lembrando: você não está diácono; você é diácono. Não houve mera aquisição ou mudança de status, houve modificação no ser, pois, o sacramento da Ordem marcou-o com um caráter sacramental, que o configura com Cristo, que se fez “diácono”, isto é, o servo de todos (cf. CIC 1570).

A ordenação, por si só, não deleta o passado, não muda a realidade, não modifica radicalmente as circunstâncias. Os cenários continuam os mesmos, e você não se livrou de nada; a ordenação não diminuiu – e tampouco excluiu – suas responsabilidades matrimoniais, parentais, profissionais, cívicas etc., agora acrescidas das ministeriais.

Felizmente, a diaconia generosa, sincera e despretensiosa está em toda parte. Há diáconos nota dez pelo mundo – inclusive fora da Igreja –  que sequer foram ordenados; todavia, há diáconos por ordenação – inclusive dentro da Igreja –  sem a necessária intimidade com a diaconia, com a disponibilidade e com a gratuidade.  Infelizmente, há, ainda, os que, por meio desse ministério, buscam, sem cerimônias, status, cargos e conveniências.

Aliás – peço perdão pelo trocadilho – a ordenação imprime caráter, mas não muda o caráter; portanto, há que se cuidar bem dele, para que ele (o caráter) se alinhe, se configure à nova situação. Pode ser que o hábito faça o monge, mas a estola não faz o diácono. Há que se despir da “antiga maneira de viver” e se revestir da nova maneira de ser. O “homem velho” deve ceder seu lugar ao “homem novo”.

“Pão, ainda que assado na fôrma de bolo, continua sendo pão”, por isso há que haver mudança de atitude. Há que haver conversão. E metanoia não é mágica e nem ocorre por osmose; é processo, é reconstrução, e carece de formação. As escolas diaconais, cientes disso, deveriam incluir no seu currículo disciplinas e experiências que favoreçam o autoconhecimento e o desenvolvimento afetivo, emocional e social. 

* Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo (SP)