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Diácono Rodrigo Dias - CRD Nordeste III

Na minha infância, nunca entendia por que Jesus não teve lugar para nascer, pois eu ouvia nas igrejas que Ele era o filho de Deus todo poderoso, o esplendor de luz. Eu olhava as igrejas, a beleza do ouro e me questionava: como pode Jesus não ter tido um lugar para nascer?

Lá em casa, quando chegava perto do Natal, vovó contava as histórias do nascimento de Jesus. Ela dizia: "que Jesus queria ser igual à gente pobre e que os presentes que Ele recebeu dos magos, repartiu com outras crianças".

Eu aprendi muito daquelas histórias, cada conto encantava nosso corpo, animava nosso dia, pensei nisto e resolvi contar também histórias para reanimar corpos, neste Natal.

Há poucos dias, aqui em Ubatã (Belém), cidade do sul da Bahia, caminho dos caminheiros da vida, manjedoura dos pobres, encontrei um caminheiro na porta da igreja. Nos começamos a conversar, a partir de uma pergunta dele. "Aqui é a casa de Deus?" Eu respondi: E da gente. Ele continuou: É mesmo? Já faz dias que eu estou caminhando em busca de um trabalho na roça. Meu patrão mandou me chamar, mas não mandou o dinheiro da passagem. Vi a Igreja e resolvi parar e pedir força a Deus para chegar lá. Eu perguntei: De onde o Senhor veio? Ele disse que nasceu em Bom Jesus da Lapa, cidade dos romeiros e peregrinos da fé.

Percebi que ele não queria falar de onde veio, mas onde nasceu, no Bom Jesus, sertão da Bahia, lugar de muito calor humano e de fé.

Ele contou que já faz 15 anos, que não vai lá. Na sua memória, ainda guarda com carinho os momentos de encontro, festa e celebração da vida.

Quando foi saindo, perguntei seu nome, ele olhou nos meus olhos e disse: "você nunca vai se esquecer de mim, todo dia 25 de dezembro, vai se lembrar do meu nome: "Natalício". Veio no meu corpo a lembrança das histórias de minha avó, que nos fazia dormir e acordar cheios de esperança na vida. Com sorriso surpreso, Ihe abracei e disse: muito obrigado, seu Natalício, por sua presença!

Natalício, assim, como Jesus, procura um lugar para nascer com dignidade, trabalhar e ter seus direitos respeitados e viver feliz.

Estamos nos aproximando do aniversário de "Seu" Natalício, gostaria muito de reencontrá-lo, para a gente dar dois dedos de prosa e falar que neste Natal celebrarei por todos e todas os (as) peregrinos (as) de manjedouras -crianças, mulheres, homens que precisam de um lugar para nascer.

Feliz Natal a todos e a todas, nos encontraremos na estrada!