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"SEMANA SÃO LOURENÇO" - DIÁCONOS NUMA ERA SECULAR

04/08/2020

* Diácono José Durán y Durán

 

           Estamos numa era da história bem peculiar. Tudo muda a uma velocidade difícil de acompanhar. Fixando nosso olhar apenas no aspecto da religião podemos verificar o impacto da passagem de uma era cristã para uma era secular.

           Quais são os sinais dos tempos, em tempos de era secular? Mostra-se urgente a diaconia da leitura dos sinais dos tempos. De início não adianta colocar-se como inimigos ou juízes que condenam tudo o que possa cheirar a secular. Secular não é apenas um jeito de viver e de se organizar socialmente sem influência da religião. O fenômeno secular vem se gestando há alguns séculos. E como foi analisado por muitos pensadores, pode ser fruto de um esgotamento do jeito de viver a religião que não responde mais as necessidades e exigências do homem de hoje. Pode ser um tempo propício para a realização de uma autêntica quenose. A diaconia da concretização de uma Igreja quenótica. Isto é, uma Igreja despojada do seu senhorio e magistério, para lavar os pés de todos.

           Assistimos hoje a uma profunda mudança no jeito de se entender a religião. Não tanto como uma rejeição do transcendente, mas como uma nova descoberta do sagrado, do espiritual, no imanente, no secular. Este é um fenômeno mundial e afeta a todas as religiões. O grande mistério, e o grande desafio, é como interpretar e que postura prática adotar diante do fenômeno da evolução da religião. Em geral, oferecemos grandes resistências para aceitar que tudo está em continua mudança. “Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).

           A diaconia da Igreja é desafiada a ser uma diaconia samaritana, - isto é, “cuidar” de todos, sem discriminações, distinções, ou intenções proselitistas, na gratuidade total e com redobrada atenção; uma diaconia “zaqueia”, -isto é, de serviço aos “Zaqueio” enxergando os que estão à procura- e sabe sentar-se à mesa com eles; uma diaconia dos novos cobradores de impostos, dos corruptos e ladrões do sistema injusto da economia mundial; dos ateus, dos sem fé, dos inimigos da fé cristã, dos novos “hereges”; dos sem prática religiosa, dos insatisfeitos espiritualmente, dos que preferem viver uma espiritualidade sem religião. Uma diaconia capaz de enxergar o que pode haver de bom nos que estão à procura. Vivemos em um tempo de tensão. Estamos numa nova era de busca religiosa. Não podemos simplesmente condenar os que querem seguir um caminho espiritual próprio.

           Estamos vivendo no meio de um pluralismo espiritual, que dificilmente o enxergamos na sua abrangência porque estamos muito imersos em nosso pequeno e restrito mundo ministerial dependente de uma estrutura cristã muito autorrefencial. No entanto, o que torna-se cada vez mais patente é o convívio entre grupos e pessoas de diversas religiões, sem que as antigas barreiras e preconceitos nos separem. Por isso é tempo da diaconia da proximidade.

           Cada vez mais estamos em contato diário com amigos, companheiros de trabalho ou familiares que se declaram ateus, agnósticos, ou sem religião. Muitos não querem ter ligação com instituição religiosa, e nem prática ativa. Outros não querem nem ouvir falar em dogmas, normas, hierarquia. Encontramos os que sentem-se satisfeitos vivendo um humanismo ligado com espiritualidade. Ou os que combinam cristianismo com budismo, ou com outras expressões religiosas. Outros ainda criam sua “bricolagem” religiosa.

           Diante deste quadro exige-se uma diaconia humilde, tolerante, aberta, dialogal. Uma diaconia da pacificação, não das condenações, dos anátemas, das rejeições, das demonizações. A diaconia da pacificação exige paciência e grande misericórdia. Torna-se necessária a diaconia da libertação da religião dos seus limites e alavancar um processo de desenvolvimento e evolução para patamares cada vez mais universais e inclusivos. Viver a diaconia da derrubada de todas as barreiras culturais e religiosas. Construir a paz na era secular passa pelo diálogo e respeito entre as religiões e as igrejas.

* Diác. José Durán y Durán, da Diocese de Palmares (PE), foi presidente da Comissão Nacional dos Diáconos. É teólogo, poeta e escritor e Assessor especial da Presidência da CND.