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SOLENIDADE DE JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO

20/11/2021

SOLENIDADE DE JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO
  • Elpídio Macário da Silva Júnior

            Amados irmãos,

Hoje celebramos a Solenidade de Cristo Rei do Universo e, assim, encerramos o ano litúrgico que começa no Tempo do Advento.

solenidade de Cristo Rei é uma celebração recente na Igreja, estabelecida apenas em 1925 pelo Papa Pio XI. Naquele contexto, a Igreja observava como necessário reafirmar a soberania real de Jesus e de seus ensinamentos, em um mundo que se afastava cada vez mais do Senhor. E hoje? Como vive nossa sociedade? Como nós estamos vivendo? Reconhecemos realmente a realeza de Cristo, ou nos portamos como servos, como vassalos do mundo? Somos verdadeiros precursores desse Rei ou preferimos um estilo de vida hedonista buscando o prazer como algo supremo, finalidade e fundamento da nossa vida moral?

Que Cristo é rei não duvidamos e inúmeros são os testemunhos dessa realeza: Escritura, Tradição e Magistério.

A Sagrada Escritura diz isso claramente:

I – No Antigo Testamento observamos...

... O salmista afirmar que Ele é o “Rei, dado pelo Pai a Sião, sua Santa Montanha, para receber em herança as nações, e dilatar seu domínio até os confins da Terra” (SI 2,6-8). Também afirma que o trono d’Ele “subsistirá por todos os séculos: a vara de retidão é a vara de teu reino” (Sl 44,7). Acrescenta ainda que: “Nos dias Dele, aparecerá justiça e abundância de paz… E dominará de mar a mar, e desde o rio até os confins da Terra” (Sl 71,7-8).

Isaías também profetiza esse Rei: “Um Menino nasceu para nós, e um filho nos foi dado, e foi posto o principado sobre o seu ombro; e será chamado Admirável, Conselheiro, Deus, Forte, Pai do futuro século, Príncipe da Paz. O seu império se estenderá cada vez mais, e a paz não terá fim; sentar-se-á sobre o trono de Davi e sobre o seu Reino, para o firmar e fortalecer pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre” (Is 9,6-7).

II – No Novo Testamento temos a confirmação daquilo que foi previsto.

Pelo anjo (dirigindo-se à Virgem Maria): “Não temas, Maria! Encontrastes graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás a luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai: e reinará eternamente na casa de Jacó, e seu reino não terá fim” (Lc 1,30-33).

  • Pelo próprio Senhor:

Ao ser interrogado por Pilatos: “Então, tu és rei? Jesus respondeu: “Tu o dizes que eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo” (Jo 18, 37).

Diante da incredulidade de alguns dos discípulos afirmou o Senhor: “Todo poder foi me dado no céu e sobre a terra” (Mt 28, 17).

Pelos discípulos (João em sua visão apocalíptica): “Um nome está escrito sobre seu manto e sobre sua coxa: Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19, 16)

 

III – A tradição também nos confirma a realeza de Cristo:

  • Liturgia das Horas (ofício das leituras: hino):

Jesus, Rei tão admirável,

nobre Rei triunfador,

sois doçura inefável,

desejável ao amor.

Rei dos anjos, Rei do mundo,

Rei da máxima vitória,

doador de toda graça,

dos eleitos honra e glória.

  • Os padres da Igreja (Sto. Agostinho):Tomando, na carne mortal, nossos pecados; resistindo às tentações – às sedutoras e às intimidatórias – do inimigo [...] e triunfando sobre elas em si mesmo. [...] Com esse mesmo rei esperamos ser introduzidos na Jerusalém celeste, [...] e ser guardados por ele como rei (regnante) e pastor (custodiente). Assim nosso Senhor Jesus Cristo se mostra como nosso rei”.
  • Magistério (Bento XVI): Cristo é rei e possui “o poder divino de dar a vida eterna, de libertar do mal, de derrotar o domínio da morte”.

 

Esses testemunhos são incontestáveis. Porém, compreendemos realmente o sentido dessa realeza?

1º Em sentido metafórico: Cristo é rei pelo “grau supremo de excelência que possui, e que o eleva acima de toda a criação” (Pio XI). Assim, Ele reina:

Sobre nossas inteligências, uma vez que é a suprema Verdade, da qual todas as outras verdades são derivadas.

Sobre nossas vontades, na medida em que acende nelas os mais altos propósitos.

Sobre os nossos corações, arrastando-os ao seu amor com sua inefável caridade e misericórdia.

 

2º Em sentido estrito, literal e próprio:

Pelo direito de natureza: Ao professarmos a fé dizemos: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus. (...) Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, (...) consubstancial ao Pai. Subiu ao céu, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, (...) e o seu reino não terá fim”.

Pelo direito de conquista: Não somente em razão de sua natureza divina, mas também como homem, Ele tem o direito ao poder régio por ter redimido o mundo com sua Paixão e morte na cruz. Sobre isso afirma o Apóstolo: “Nós já não somos mais nossos, porque Cristo nos comprou a um grande preço” (1Cor 6, 20).

 

Mas até onde chega o poder real de Cristo? Não há duvida! O verdadeiro poder de Cristo engloba o triplo poder: legislativo, executivo e judicial.

Exerce o poder legislativo: Como Deus, impôs suas leis sobre toda a criação. Enquanto Redentor promulgou a lei evangélica, que alcança o seu maior expoente no mandamento do amor: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Nisto conhecerão que sois os meus discípulos” (Jo 13, 34).

Exerce o poder executivo: Ele governa os destinos da história do mundo, servindo-se às vezes de seus próprios inimigos para realizar os planos de seu reinado de amor.

Exerce e exercerá o poder judicial:

Com os vivos (sacramento da confissão): acusamo-nos e do Supremo Juiz recebemos a absolvição, a misericórdia.

Com os mortos (juízo particular e universal):

Credo: “E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos”.

Escritura: “E Cristo nos mandou – diz o apóstolo Pedro – proclamar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10, 42).

 

E como julga esse Juiz? Ele julgará com retidão, pois não age por ódio ou inveja; com sabedoria, pois julgará com prudência.

E a esse juízo devemos temer? Santo Tomás ensinou que sim, devido:

A sabedoria do Juiz, uma vez que Ele conhece todas as coisas, pensamentos, palavras e ações, como se lê na Carta aos Hebreus (4,13): “Todas as coisas estão nuas e abertas aos seus olhos”.

As testemunhas infalíveis, as nossas próprias consciências, como ensina São Paulo (Rm 2, 15-16): “A consciência servirá de testemunho no dia em que o Senhor julgar as coisas ocultas dos homens, enquanto pelos pensamentos se acusam ou se defendem”.

A justiça inflexível do Juiz, pois agora é o tempo da misericórdia. Contudo, o tempo futuro é só de justiça, de modo que o tempo de agora é nosso, mas o tempo futuro será só de Deus.

 

E como preparar a nossa apresentação diante desse Rei e Juiz? O santo doutor ensina quatro coisas.

Agir com boa ação, conforme afirma o próprio Cristo (Mt 25, 34-40): “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. (...) Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.

Confessar as faltas cometidas e a penitência feitas por elas, uma vez que na confissão deve haver três coisas: a dor interior, a vergonha da confissão e o rigor da satisfação. Essas três coisas redimem a pena.

Agir movido pela caridade/amor de Deus, pois está escrito: “A caridade cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).

Assim, iluminados por essa Solenidade que se aproxima, peçamos à Virgem Mãe de Deus e nossa, que nos ajude a seguir Jesus, nosso Rei, como ela fez, e a dar testemunho dele com toda a nossa existência.

 

Contribuição: Elpídio Macário da Silva Júnior

Candidato ao diaconato permanente pela Diocese de Cristalândia – TO/GO. Licenciado em Letras: Língua Portuguesa e Língua Inglesa e suas Respectivas Literaturas. Possui especialização em Filosofia Contemporânea. Cursando especialização em Metodologia do Ensino da Língua Inglesa. Possui formação teológica pela Diocese de Uruaçu/GO. Possui especialização em Estudos em Teologia Bíblica. Notário da Diocese de Cristalândia na Região Goiás.