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TOMAR A PRÓPRIA CRUZ

29/08/2023

TOMAR A PRÓPRIA CRUZ

*** Diácono Alberto Magno - Arquidiocese de Brasília (DF)

Imagine-se caminhando com Jesus em meio aos discípulos. Você é um deles. Carrega um certo entusiasmo pois acredita que Jesus é o Messias prometido. Tem que ser ele! Você presenciou muitos milagres. Estava junto quando curou leprosos, cegos, coxos... viu ressuscitar o filho da viúva de Naim, a sogra de Pedro. Viu quando multiplicou os pães e alimentou uma multidão... Outro dia mesmo ouviu da boca de Pedro que Jesus é o Messias, o filho de Deus vivo e Jesus não só confirmou como ainda o elogiou! Sim, Jesus só pode ser mesmo o Messias esperado.

E agora, estamos nos dirigindo à Jerusalém, onde está o templo de Salomão. Lugar de peregrinação. Lugar onde se encontram os chefes do povo de Israel e também sede do governo estrangeiro que domina a nação. É lá que o Messias irá se revelar. Está perto a hora em que Israel será libertada e Jesus se sentará no trono e assumirá o seu reinado. Ah! Como eu quero estar presente nessa hora! Quem sabe Jesus me dá um cargo importante em seu governo? Afinal caminho com Ele há tanto tempo. Deixei tudo: minhas redes, minha família, meus amigos...

De repente Jesus começa a dizer que em Jerusalém terá que sofrer e que será morto. Ele também disse que ressuscitará ao terceiro dia, mas isso é uma loucura. Pedro chama Jesus ao lado e diz para Jesus parar de falar essas coisas, tirar esses pensamentos negativos e, se for o caso, talvez fosse melhor não ir para Jerusalém nesse momento. Porém Pedro é fortemente repreendido por Jesus.

Pedro raciocina de modo humano e preocupa-se com Jesus. Quer evitar sofrimento e morte. Não compreende o que Jesus está falando.

Nós também, como Pedro, queremos evitar sofrimento e morte. A menor dor, o menor desconforto já é motivo para nos aborrecer. Fugimos de todas as ocasiões que possam trazer algum tipo de sofrimento. Nos dias atuais tudo gira em torno da busca do bem-estar, do conforto material, do sucesso. Compre tal coisa e serás feliz!

O modo de viver da humanidade hoje, centrado na busca do prazer, do conforto, da satisfação das vontades (hedonismo) nos leva a colocar os olhos nas coisas da terra, nos bens materiais, no prazer... Falar de sofrimento, pecado, mortificação parece um tema estranho, fora da realidade, incompreensível.

Pensando com lógica humana, é difícil compreender que através da dor, do sofrimento e da morte, pode-se chegar a algum bem. A prudência humana nos leva a fugir da cruz. Nós queremos a felicidade e que seja completa e eterna.

Jesus ao repreender Pedro fala abertamente da cruz: “Se alguém quer Me seguir renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24-25).

Somente a fé pode nos ajudar a entender o valor sobrenatural da dor. Sobre a cruz, Santo Agostinho nos ensina que “não houve meio mais conveniente de salvar a nossa miséria” (Tratado sobre a Trindade). É a fé que nos dá a compreensão que sem sacrifício não há amor.

Precisamos desenvolver uma “prudência sobrenatural”.  É um modo de agir e compreender a realidade a partir de uma visão sobrenatural da nossa vida e do mundo que nos rodeia. Fomos criados para uma finalidade: felicidade eterna. Essa felicidade eterna tem um nome: céu. Devemos aprender a buscar os meios adequados para responder a essa vocação divina.

“O caminho da santidade passa pela Cruz, e todo o apostolado fundamenta-se nela” (Pe. Francisco Carvajal). “Não é o servo maior que seu Senhor” (Jo 13,16). Se Jesus, para nos redimir, passou pela cruz, essa é a porta estreita por onde nós também devemos entrar.

*** Diácono Alberto Magno Carvalho de Melo é Assessor de Relações Internacionais da CND/BRASIL