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Trabalhando a salvação dos cônjuges

21/11/2019

*Diác. Juranir Rossatti Machado

No âmbito da Igreja Católica, o casal cristão tem um dever intransferível: cada cônjuge é chamado a colaborar no processo de salvação do outro, conforme o ensinamento da Igreja, ao tratar da índole natural do sacramento do matrimônio. Vale a pena trazermos à memória o que nos diz o Catecismo da Igreja, em seu artigo 1534: “Dois outros sacramentos, a ordem e o matrimônio, estão ordenados à salvação do outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do serviço aos outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus.”

Evidentemente, no interior do núcleo familiar, todos, pais e filhos, são importantes e merecedores de recíprocas atenções, mas existe entre marido e mulher uma significativa corresponsabilidade firmada pelo pacto matrimonial: cada um se torna responsável pela felicidade eterna do outro. A omissão desse serviço não deixa de causar grandes prejuízos à estabilidade da família e à própria profundidade da união conjugal.

Dentro do assunto relativo à doação dos corpos, uma resposta ao amor dos esposos, através do diálogo carnal e da comunhão física, o Apóstolo Paulo dirige ao marido e à mulher a grave advertência: “O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido” (1Cor 7, 3). Podemos aplicar a mesma orientação ao serviço de salvação do cônjuge. O marido tem o dever de trabalhar a salvação de sua esposa. A mulher é chamada a colaborar efetivamente no processo de salvação de seu esposo. Não se trata de algo optativo; mas de índole natural da aliança que une o homem e a mulher cristãos em matrimônio.

Na comunidade conjugal, firmada pelo sacramento do matrimônio, que significa, concretamente, o dever de empenhar-se pela salvação do outro? Para nosso breve exame de consciência, apresentamos uma tríplice resposta.

Em primeiro lugar, significa conduzir o outro a perceber que ele é capaz de descobrir a Deus, vivenciá-lo e sensibilizar-se diante dele (CIC, 27). Ajudá-lo a dar um mergulho profundo no mistério do amor divino (Jo 4, 8), dentro do qual se encontram todas as bênçãos necessárias à solidificação da vida matrimonial, tornando-a cada vez mais uma casa firme sobre a rocha (Mt 7,24-27). Deus está no princípio do pacto matrimonial, levando o homem e a mulher à descoberta de que, por meio da aliança conjugal, os dois “já não são mais que uma só carne” (Gn 2, 24). A pluralidade de talentos, manifestada no marido e na mulher, não pode desconhecer a unidade a que eles são chamados a experimentar no amor, sob o olhar amoroso de Deus.

Em segundo lugar, cada cônjuge precisa compreender que ser discípulo de Jesus é, na verdade, ser Cristo para o outro. Ser expressão viva de Cristo. Ter uma conduta cristianizada. Ter sentimentos envolvidos pelo Espírito de Cristo. O cristão não é simples retransmissor de mensagens evangélicas; mas é alguém que assume, de fato, os valores do Evangelho e os coloca em todos os instantes de seus dias como abalizadores de seu comportamento em relação às pessoas e às mais diversas situações. É alguém que deixa sua vida impregnar-se deles: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim...” (Gl 2, 20).

Finalmente, o nosso empenho pela salvação do outro, que nunca deixa de ser tarefa voltada para a própria salvação pessoal, passa pela construção da Igreja doméstica. Nessa Igreja, aberta, sim, para o mundo, mas vivida, fundamentalmente, dentro da família, todos são celebrantes e participantes da liturgia da comunhão de afetos e respeito, frutos do amor. Como casais unidos pelo sacramento do matrimônio, se a fé em Deus e a adesão a Jesus Cristo não nos levam a sermos Igreja e a vivermos como Igreja, no contexto conjugal e familiar, deveremos reconhecer que algo está equivocado em nossa maneira de ser e nosso modo de agir como homens e mulheres cristãos.

Marido e mulher, a vivência consciente do dever de um para com o outro, não aniquila o amor; liberta, sim, o coração das grades do egoísmo e do fechamento. O casal cristão é chamado a ser centro de irradiação do projeto de Deus, que conduz a pessoa humana ao verdadeiro crescimento e aos autênticos valores.

* ENAP – Equipe Nacional de Assessoria Pedagógica da CND