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UMA PEQUENA REFLEXÃO

10/08/2023

UMA PEQUENA REFLEXÃO

Costumo brincar com as pessoas: cuidado com os diáconos, essa gente não perdoa! Digo isto para acentuar que nós diáconos não temos a faculdade de perdoar os pecados no Sacramento da Reconciliação. Porém, somos chamados a ser sinais da misericórdia de Deus, especialmente no cuidado para com os mais necessitados.

Papa Francisco, pouco depois de eleito, perguntado em uma entrevista, quem é Jorge Mario Bergoglio, respondeu: “Eu sou um pecador”. O Papa não disse isso apenas por uma questão retórica ou como uma frase de efeito. Ele queria mesmo dizer que é um pecador. Diante de Deus somos todos indignos.

Precisamos olhar para nós mesmos e saber quem somos. Sim, somos pecadores. Necessitados da misericórdia de Deus. Temos que reconhecer isto não para ficarmos estagnados, como que presos nessa situação, pois, embora o pecado esteja presente na nossa natureza humana em face da desobediência de nossos pais, não é o pecado que nos define.

Deus faz tudo em seu poder para nos salvar. Entregou seu próprio filho para nos redimir. Isso é graça. A única razão da encarnação é que Jesus veio para nos salvar. “E uma voz veio dos céus: ‘Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo’” (Mc 1,11). O que nos define é a filiação divina. Somos filhos, no Filho. Tomemos para nós essa Palavra e assumamos nossa condição de filhos, a nós concedida pelo batismo. Filhos amados, destinatários da misericórdia do Pai.

Sabendo que somos objetos da misericórdia do Pai, nos leva a compreender que, como discípulos de Jesus, devemos imitá-lo no exercício da misericórdia. “Ide, pois, e aprendei o que significa; misericórdia é o que eu quero, e não sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar os justos, mas pecadores” (Mt 9,13). Não é o julgamento de Deus que nos muda, mas Seu amor. Veja o caso da mulher pega em adultério (Jo 8,1-11). Os fariseus, apegados às “regras”, queriam logo a condenação da mulher. Jesus fez que aqueles homens olhassem para seus próprios pecados e disse à mulher: ‘Ninguém te condenou, nem eu te condeno, vá e não peques mais’.

Deus detesta o pecado porque nos faz escravos e nos impede de ser filhos. E Ele nos criou para sermos filhos amados. Amor, nós devemos pregar primeiro. Misericórdia, nos devemos pregar primeiro. Só depois que o amor é compreendido, podemos ensinar “Se você me ama, guarde meus mandamentos” (Jo 14,15 e Jo 14,21). Muitas vezes nossa pregação é assim: obedeça aos mandamentos, senão você irá para o inferno. Isso faz com que as pessoas mantenham o foco em si mesmas e no pecado, levando ao escrúpulo, ao desânimo... O que nos muda é o amor. Veja a história de Maria Madalena, da samaritana à beira do poço de Jacó, do publicano Mateus, de Zaqueu... Devemos fazer as coisas corretas porque Deus nos ama e nos entregamos a ele como presente de nossa gratidão.

Papa Francisco, dirigindo-se a cerca de 200 mil pessoas no seu primeiro ‘Ângelus’ como papa, disse: “Não esqueçais isto: o Senhor nunca se cansa de perdoar. Já pensastes na paciência de Deus para com cada um?”. Padre Larry Richards, autor do livro ‘Seja homem!’, ensina que “misericórdia é dar alguma coisa boa para quem não merece”. Com o coração cheio de gratidão pela misericórdia recebida, estaremos aptos a exercer a caridade para com aqueles que dela necessitam.

Ao vermo-nos como ‘diáconos’ da Santa Igreja, que pensamentos ou ideias nos ocorre? Muito se discute e se estuda, pelo menos no meu país, a identidade do diácono. Quem é o diácono? Sem desmerecer o aprofundamento teológico dessa questão, necessário e importantíssimo, tenho para mim que o diácono é imagem (ícone) do Cristo que serve. O “ser diaconal” é o “ser que serve”. Aquele que, como Cristo, dá sua vida pelo outro. E amar é estar vulnerável. Se você quiser ficar intacto, não vai se doar aos outros

A presença do diácono na sua comunidade, na sua paróquia, na sua vida familiar e profissional, como também no seu papel como cidadão presente e participante da sociedade civil, deve sempre ser sinal de Cristo servidor. A imagem do lava-pés ilustra perfeitamente o caminho que temos que seguir (Jo 13,1-7). Se Jesus lavou os pés dos discípulos, com muito mais razão temos nós que repetir Seu gesto. Isto deve ser expresso em ações concretas no nosso dia a dia.

Em resumo, essa imagem de servidor identifica o diácono como tal. Todavia, as ações concretas dos diáconos se expressam de tantos modos quantos se apresentam as necessidades da Igreja e do mundo, combinados com os talentos que a sabedoria de Deus concede a cada um de nós. Jesus só nos deu um mandamento: amar uns aos outros, como eu vos amo (Jo 13, 34).

Que a Virgem do Carmo nos ajude a sermos verdadeiros ícones da caridade na Igreja e no mundo. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Brasília, 08/08/23

Diác. Alberto Magno Carvalho de Melo - Arquidiocese de Brasília (DF)

Assessor de Relações Internacionais da CND/BRASIL