Home | Publicação | URGÊNCIAS DA ATUALIZAÇÃO TEOLÓGICA-PASTORAL

Compartilhe:

URGÊNCIAS DA ATUALIZAÇÃO TEOLÓGICA-PASTORAL

10/02/2021

URGÊNCIAS DA ATUALIZAÇÃO TEOLÓGICA-PASTORAL

Diácono José Durán y Durán, teólogo e escritor

Durante a pandemia da Covid 19, os mais idosos, como todos em geral, tivemos que fazer alguma forma de atualização. Eu, por exemplo, tive que me familiarizar muito mais com o celular, desativar o telefone fixo; tive que, mesmo com resistências, cadastrar a conta bancária no celular; iniciei a fazer algum tipo de compra pela internet; fazer compra do supermercado pelo whatsapp; participar de reuniões via internet; preparar live, gravar vídeos. Sem contar as vezes que tive que atualizar os programas do celular ou do computador. Quem não acompanha, não só fica desatualizado, como impossibilitado de se comunicar adequadamente. Esta experiência devia nos servir para atender aos contínuos chamados de atualização que o Espírito Santo vem fazendo a Igreja, a cada um de nós, desde o Concílio Vaticano II até hoje. Estamos muito lentos, muito atrasados nas respostas, e consequentemente, com muitas dificuldades para cumprir a missão.

Sem uma conversão pastoral, isto é, sem uma experiência nova de ser Igreja, sem uma nova forma de anunciar e testemunhar o Evangelho, não poderá surgir uma nova teologia. A teologia entendida como reflexão sobre a práxis pastoral. Depois do Concílio Vaticano II tivemos uma nova práxis pastoral e uma nova teologia, que foi freada durante longos anos. Agora, com o Papa Francisco, temos uma retomada desta nova pastoral e desta teologia nova. Conhecer e estudar a teologia de Francisco já é uma grande atualização teológica.

Estamos numa mudança de época onde tudo muda vertiginosamente. Precisamos estar atualizados para poder acompanhar o ritmo do pensamento e da vida do homem de hoje. Do contrário corremos o risco de falar sem sermos entendidos, de propor um estilo de vida e de prática religiosa que não oportuniza uma verdadeira experiência com Deus.

Estou falando de urgências da atualização teológica-pastoral, porque trata-se de uma teologia unida a pastoral. Não mais uma teologia divorciada da pastoral; não mais uma dissociação entre fé e vida; não mais uma teologia refém de uma racionalidade analítica instrumental. Em geral a maioria dos diáconos, e me atrevo a pensar, que a maioria dos candidatos, receberam ou recebem uma formação teológica racional, intelectual, acadêmica, sem ser uma reflexão a partir da prática pastoral. A nova teologia é mais narrativa. Parte da nova experiência de vida. Não é mais uma teologia de uma elite, mas uma teologia de todos os membros do Povo de Deus.

A maioria dos tratados de teologia que aprendemos, estão totalmente superados. Assim como a maioria das práticas pastorais e devocionais estão totalmente superadas. O esvaziamento das nossas igrejas é um sinal visível do descompasso existente entre os pastores e o homem de hoje. Entre fé e vida.

É urgente tomar consciência de que estamos em processo de mudança nas estruturas, na espiritualidade e na pastoral da Igreja. Que somos uma igreja em processo de saída. Em processo de um novo entendimento da missão, da evangelização. Uma Igreja em processo de inserção no mundo, onde o processo se torna método e mística.

Por que é urgente a atualização teológica? Porque estamos em um mundo em processo de unificação, onde a cosmologia e antropologia avançaram surpreendentemente. Aumentou o contato com as outras religiões mundiais. Os estudos sobre a Bíblia avançaram muito. A capacidade de autodestruição do homem está chegando ao limite. O diálogo com a ciência tornou-se imprescindível. Porque está se repensando o pensamento. O Papa Francisco escreve na Laudato Si’:

Espera-se ainda o desenvolvimento duma nova síntese, que ultrapasse as falsas dialéticas dos últimos séculos. O próprio cristianismo, mantendo-se fiel à sua identidade e ao tesouro de verdade que recebeu de Jesus Cristo, não cessa de se repensar e reformular em diálogo com as novas situações históricas, deixando desabrochar assim a sua eterna novidade (LS, n. 121).

É urgente sintonizar com a teologia que está brotando da recontextualização cultural.

A nossa fé exige sempre que saibamos dar razão do nosso amor e da nossa esperança: Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês “(1Pd 3, 15).

Por que é urgente a atualização pastoral?

Para concretizar a eclesiologia de comunhão e a participação, superando uma pastoral clerical. Para oportunizar a experiência de pequenas e autênticas comunidades. Para ser uma Igreja mais inserida na sociedade. Porque temos que vivenciar a sinodalidade. Porque precisamos sair da” lógica das massas”, e ir além de uma pastoral de manutenção, sendo muito mais criativos. Necessitamos aprender a ser uma “Igreja em saída”, com uma pastoral realizada em novos lugares, novos horários, com linguagem renovada e adequada às novas demandas da população (Cf. DAp. n. 366-379). Para dar um salto de qualidade, e aprender o acompanhamento pessoal nos processos de crescimento (EG, n. 169 ss.). Diz o Papa Francisco:

“Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual. Na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre «nova». (EG, n. 11).

Por tudo isso, e muito mais, hoje, mais do que em outras épocas, torna-se urgente a formação continuada. Essa formação que só é possível a quem tem sua mente e seu coração aberto para acolher as novidades sugeridas pelo Espírito Santo.