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Vem para o meio

21/11/2019

Diácono José Carlos Pascoal

“Caminhando e cantando/ E seguindo a canção. Somos todos iguais/ Braços dados ou não. Nas escolas, nas ruas/ Campos, construções. Caminhando e cantando/E seguindo a canção.”

Estamos refletindo desde agosto de 2011 a 5ª Semana Social Brasileira com o tema “Participação da sociedade no processo de democratização do Estado brasileiro” e o lema “Estado para que e para quem?”. Da empolgação inicial, quando aprovada por unanimidade pelos bispos do Brasil reunidos em Aparecida para a 49ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em abril de 2011, parece que, devido a “enxurrada” de novos documentos e programas da Igreja, há certo esfriamento, inclusive por parte das Pastorais e Organismos Sociais. É uma pena que isso ocorra, principalmente por estarmos em ano eleitoral e os cristãos precisam com urgência tomar posições.

Na introdução do Instrumental Metodológico para a 5ª Semana Social Brasileira (página 5) se lê: “Seu objetivo é contribuir para que este evento, marcante na vida da Igreja no Brasil, continue sendo um espaço participativo de discussão sobre os rumos do nosso país. A 5ª Semana tem como proposta a reflexão sobre o papel do Estado na vida dos brasileiros em uma perspectiva crítica e propositiva, pois participar implica em ter consciência das dificuldades e erros, mas também na ousadia de propor outros caminhos”.

            Enquanto não entendermos que “somos todos iguais, braços dados ou não”, continuaremos impedindo que os excluídos “venham para o meio”. Enquanto não entendermos que é preciso reivindicar direitos iguais para todos, que não é preciso “pegar em armas” para isso, mas fazer valer os direitos constitucionais, estaremos diante do grande dilema: por quê há “direitos” demais para uns poucos privilegiados, e direitos de menos para muitos?

            “Noutra vez, entrou ele na sinagoga, e achava-se ali um homem que tinha a mão seca. Ora, estavam-no observando se o curaria no dia do sábado, para o acusarem. E diz ao homem da mão seca: Vem para o meio” (Mc 3, 1-3). Para fazer o bem, Jesus desafia a lei imposta pelos fariseus. Para cumprir seu projeto de amor provoca a inclusão. Porque ainda temos medo de praticar o bem em plenitude? Por causa das críticas dos “bem” ou “mal” intencionados? Porque a inclusão social deve ser feita pelo Estado? E se este não o faz? Não é missão evangélica da Igreja e dos cristãos por causa e pelo testemunho de Jesus?

            O tema do “Grito dos Excluídos” de 2012, que a Igreja celebra no dia 7 de setembro em todo o país tem como tema: “Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!”. O mínimo que espera de nós, os cristãos é a participação consciente, a manifestação de um autêntico cristão, interessado em viver o Evangelho em plenitude. Há quem se manifeste ao contrário: “não adianta gritar, ninguém nos ouve”. Discordo completamente: o resultado da luta de uns poucos interessados em viver a Doutrina Social da Igreja está aí para todos: - Assembleia Popular (fruto da 4ª Semana Social); Lei 9840, contra a compra de votos; Lei da Ficha limpa, contra a corrupção e outros crimes; em defesa da Vale; contra a ALCA etc.

            Você não está disposto a seguir esta luta e dizer aos excluídos “Vem para o meio”? “Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Pelos campos há fome em grandes plantações, pelas ruas marchando indecisos cordões. Ainda fazem da flor seu mais forte refrão, e acreditam nas flores...”.

* Presidente da CRD Sul 1 e coordenador da ENAC.