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Visão de Mundo

21/11/2019

Visão de Mundo

 

Diác. Alberto Magno Carvalho de Melo

 

Quando me dei conta que eu era um indivíduo, independente das outras pessoas, me perguntava muitas vezes se os outros viam o mundo da mesma forma que eu. Ao ver um objeto as outras pessoas percebem este objeto do mesmo jeito que eu? A forma, as cores, a densidade, o peso... As frases pronunciadas eram ouvidas da mesma forma? Esses pensamentos me ocorreram muito cedo, por volta dos oito ou nove anos de idade.

Um pouco mais tarde, já adolescente, descobri um caderno de notas de meu pai onde ele registrava pensamentos interessantes que encontrava. Entre aqueles pensamentos um me chamou muito a atenção: “O homem só divisa no mundo o que já leva em si mesmo”. Não havia indicação de autor e, ainda hoje, desconheço de quem seja esse aforismo. De qualquer forma, essa frase tem ecoado em minhas reflexões até hoje.

Ao olhar o mundo nossa visão passa por um filtro, como a lente de óculos que porventura usamos. Esse filtro é constituído pela educação que tivemos na família, pela instrução formal e pela nossa experiência de vida. Nossos valores, anseios, medos, conceitos e preconceitos... tudo está nessa lente. Assim, não é possível um olhar totalmente isento. Até mesmo a pretensa isenção científica com seu olhar “objetivo” sofre os efeitos de tal filtro.

Isto é uma limitação que todos temos. Diante de um objeto qualquer - que pode ser uma coisa, um acontecimento, um texto, etc. - formamos uma imagem mental que passa necessariamente por esse filtro (conf. Fenomenologia de Husserl). Essa imagem mental é necessariamente incompleta. Em um primeiro momento apreendemos parte dos atributos do objeto, com o tempo e a repetição das experiências, a imagem vai se completando, porém dificilmente poderemos afirmar ter todo o conhecimento possível sobre aquele objeto.

Chamamos de “visão de mundo” esse conjunto de experiências e valores que trazemos conosco que nos fornece parâmetros para nossa relação com o mundo exterior. Não é preciso refletir muito para perceber que cada um de nós tem sua própria visão de mundo. Basta olhar os filhos de uma família que aparentemente receberam a mesma educação dos pais, estudaram nas mesmas escolas, passaram por muitas experiências em conjunto e... são pessoas completamente diferentes.

Entender esses aspectos da formação de nossa visão de mundo e compreender que, diante de um objeto ou acontecimento, as pessoas veem coisas diferentes, nos ajuda a lidar com as situações de conflito que surgem em casa, no trabalho e até mesmo na Igreja.

Nossa tendência é achar que o nosso jeito, a forma como pensamos, como lidamos com problemas, com situações e com pessoas é a única correta ou, no mínimo, o melhor jeito de ver. Isto traz consequências diretas no nosso relacionamento com os outros. Claro que cada um pensa que sua maneira de ser é a melhor, que sua visão de mundo é a mais adequada e, quase sempre, procura impor sua opinião a qualquer custo. Essa limitação, no entanto, não pode ser desculpa para fincar pé em um modo de pensar e rejeitar tudo e todos que pensam diferente.

É preciso abrir a mente e o coração para entender e aceitar o outro. À medida que nos abrimos uns aos outros, vamos ampliando nossa própria visão. Colocar-se no lugar do outro, procurar ver com os olhos do outro, mudar de perspectiva, são exercícios que nos ajudam a compreender. A Palavra de Deus nos dá pistas: “Discerni tudo e ficai com o que é bom” (1 Tes. 5,21).

Entender e aceitar é diferente de concordar. Nem sempre é possível concordar com o outro, mas é preciso, no mínimo, procurar compreender e respeitar sua posição. Essa aceitação do outro se dá na vivência da verdadeira caridade conforme ensina o capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, e não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine...”. O contrario disso é arrogância e prepotência.

A beleza da humanidade está justamente na diversidade. Não somos produtos de uma linha de montagem que fabrica ‘produtos’ acabados e exatamente iguais. Somos criaturas de Deus, criados à Sua imagem e semelhança. Se todos somos criados à imagem de Deus, podemos deduzir que somos semelhantes também entre nós, mas semelhante não significa igual.

A riqueza de nossa Igreja está na multiplicidade de carismas e serviços para o bem não só dela própria, mas principalmente de toda a humanidade.